Sérgio Godinho Trouxe-nos Muito Bem À Sua Nação Valente

Reportagem de Catarina Fragata (texto) e Diana Silva (fotografia)

Sérgio Godinho
Sérgio Godinho e Manuela Azevedo

Falar de Sérgio Godinho é uma enorme responsabilidade. Este concerto no Coliseu de Lisboa enredou-nos numa cadeia de lições de História, uma viagem ao passado intervalada com pinceladas de presente.

Com muita mestria, somente ao alcance de quem tem milhares de quilómetros de rodagem, Sérgio apresentou o seu novo álbum Nação Valente ao mesmo ritmo que nos transportava para o seu universo de sempre, aquele em que nos sentíamos confortáveis. E assim, suavemente, com aparente ingenuidade, trouxe-nos à sua “Nação Valente” e conquistou-nos a todos.

Não nos esqueçamos que este “Senhor” foi (e É) um cantor de intervenção cujas palavras de forte arremesso político deixaram uma marca eterna na histórica da música no Portugal do pós 25 de Abril.

Para mim a associação de ideias entre ele e Eça de Queiroz é natural. Ambos usaram as palavras com grande inteligência e nos seus meios passaram mensagens críticas à sociedade das épocas em que viveram. Lendo letras de um e livros do outro percebemos imenso sobre o aquilo que hoje é o nosso país.

O que sentimos ao ouvir as suas inconfundíveis letras?

Como não podia deixar de ser, fiel ao seu ADN criativo, e citando apenas alguns exemplos, Sérgio Godinho fez sátira social (“Tipo contrafação”, “Grão da mesma mó”) e crítica política (“Bem Vindo Sr Presidente”, “Liberdade”). Falou da juventude de hoje (“Mariana Pais”) mas também da vida de outrora (“Coro das Velhas”) e falou de amor (“Com um brilhozinho…”, “Balada da Rita”, “Até Já”).

Cantou enquanto falava, emprestou música às palavras e deslumbrou com o seu gigantismo. Um homem enorme em talento mas de uma humildade e simplicidade directamente proporcionais à sua real dimensão.

Não podia deixar de referir os brilhantes convidados que Sérgio escolheu para o acompanhar neste concerto. Camané teve uma prestação espantosa naquela que diz ser a sua canção preferida, a “Balada da Rita” e interpretou “Emboscadas”, criada para ser um fado mas que não chegou a nascer nesse formato.

Manuela Azevedo trouxe o inconfundível “Sopro do Coração”, e manteve a sua energia contagiante em palco para acompanhar Sérgio em mais um tema de autoria conjunta (“Espectáculo”).

Este Senhor oriundo do Porto não se esqueceu de homenagear a cidade que o recebeu e interpretou deliciosamente “Lisboa que Amanhece” logo no início do primeiro encore.

Sim, porque houve um segundo.

Assusta e deslumbra perceber que havia canções para muitos mais concertos e encores tal a dimensão do reportório deste artista com escola de música e teatro mas que nas escolhas da vida elegeu a música.

Obrigada Sérgio, estiveste “Muito Bem”!

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