Monstra traz bonecos a Lisboa

Uma retrospectiva do cinema japonês dos estúdios Ghibli, os 20 anos do Animanostra e uma nova competição para filmes muito curtos são algumas propostas do Monstra-Festival de Animação de Lisboa, que foi apresentado ontem em conferência de imprensa no cinema São Jorge, o espaço central da programação. A Holanda é o país convidado da 10.ª edição, que decorre entre os dias 21 e 27 de Março em duas salas de cinema e em seis espaços diferentes da capital.

Com vários ciclos de filmes, desde o experimentalismo às co-produções com Portugal, a animação dos Países Baixos vai ser passada em revista, com destaque para as exibições de The Monk and the Fish (O Monge e o Peixe) de Michaël Dudok de Wit, que foi nomeado para os Óscares nos anos 90. De Wit terá uma retrospectiva, tal como outros nomes sonantes da produção neerlandesa, como Gerrit van Dijk ou Paul Driessen.

Da Holanda para o Japão, outro país em destaque na edição deste ano, os Estúdios Ghibli vão ter também uma retrospectiva em homenagem aos seus 25 anos de existência, impulsionados pelos realizadorss Hayao Miyazaki e Isao Takahata e pelo produtor Toshio Suzuki.

No âmbito deste ciclo serão exibidas seis longas-metragens de animação, duas em estreia em grande ecrã, algumas de Miyazaki, um dos maiores nomes do cinema de animação mundial, responsável por exemplo, por Totoro, A viagem de Chihiro e Princesa Mononoke.

Como é hábito, o festival desdobra-se em espaços e iniciativas, muitas extra-tela. A formação continua a ser tónica do programa, com workshops em animação e em argumento, além de novidades em diversas masterclasses. Neste caso, é curiosa a que se anuncia a propósito de arqueologia da animação, pelo francês de origem grega Georges Sifianos.

A direção do Monstra quer aproveitar a presença em Portugal de vários convidados para realizar oficinas, workshops e encontros em torno do cinema de animação para adultos e para o público mais novo, numa vertente de formação. Desta forma, algumas técnicas inovadoras de animação vão ser demonstradas nestes encontros do público (mediante inscrição) com autores. É o caso do pinscreen, a animação em alfinetes, que será apresentada por Jacques Drouin a 24 de Março na Gulbenkian, ou a técnica de processing, através de um software próprio, apresentada por Rui Madeira antes da abertura do festival, a 19 e 20 de Março na Escola Secundária D. Dinis.

As exposições integram, naturalmente, a programação e num só espaço (o Museu da Marioneta) vão-se realizar logo duas exposições: uma delas apresenta as marionetas e os cenários originais do filme francês Toile de Front, de Marc Mènager e Mino Malan, uma história que nos transporta para a I Guerra Mundial, quando um grupo de soldados recolhe algum material de guerra das trincheiras para construir instrumentos musicais e formar, assim, uma orquestra. Em simultâneo, o museu apresenta a exposição Dodu, com os bastidores da criação do português José Miguel Ribeiro – famoso pelo Cartoon d’Or que recebeu pelo filme A Suspeita. Trata-se de uma animação para crianças, vivida num mundo construído de cartão reciclado

Haverá ainda os já tradicionais concertos e algumas originalidades experimentais. O espectáculo A Fábrica, por exemplo, cruza a dança com a animação, e será resultado de um workshop promovido a 12 e 13 de Março no Teatro Meridional, pela coreógrafa angolana Marina Frangioia e por Fernando Galrito, o director artístico da Monstra, a apresentar no cinema São Jorge no dia 21.

Ainda a nível de programação e tendo em conta que em anos ímpares a competição do Monstra é dedicada a longas-metragens de animação, foram escolhidas oito de países, entre eles a China, a França, a Espanha e a Suécia.

Haverá ainda a habitual competição de escolas de todo o mundo, com 85 curtas-metragens selecionados de entre 700 que a organização recebeu e pela primeira vez haverá uma competição para filmes muito curtos, porque “é possível contar uma boa história em menos de dois minutos”, disse Fernando Galrito, que pretende, assim, abrir mais um espaço de divulgação de filmes que dificilmente seriam exibidos noutro contexto.

Outro dos destaques da edição deste ano do Monstra é o Animanostra, o mais antigo estúdio português de cinema de animação, que está a celebrar 20 anos.

No contexto da ‘transversalidade’ entre áreas artísticas, o Monstra programou também espetáculos de dança e cinema, de jazz e animação.

Completam os locais do festival o Cinema City Classic Alvalade, o Museu Nacional de Etnologia, a Fnac e parcerias com escolas através do programa Monstrinha, dedicado à programação infantil e familiar.

Entretanto, o Monstra também já este presente, entre os dias 14 e 19 deste mês, em Arras (França), onde esteve a convite da galeria Quai de la Batterie, tendo participado de três actividades relacionadas com o cinema de animação.

Em 2010, o festival dedicado à animação contou com 17.845 espectadores, teve 37 países associados e parceiros na programação, o que significou “um grande passo muito importante na consolidação junto dos públicos”, referiu Fernando Galrito.

Toda a programação já está disponível no site www.monstrafestival.com.

 

Texto de Cristina Alves

 

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