Megeve

Reportagem de Tânia Fernandes e António Silva

Um domínio esquiável de 445 quilómetros, com 219 pistas, é por si só, razão suficiente para atrair os aficionados de férias na neve. Megève tem, no entanto, muito mais do que isso para oferecer. Localizada nos Alpes Franceses, a pequena localidade é um refúgio encantador, pela sua beleza e charme. A simpatia dos habitantes, o conforto e luxo do alojamento disponível, uma gastronomia premiada com estrelas Michelin e as paisagens deslumbrantes, fazem com que até os menos entusiastas das atividades desportivas aqui queiram estar no inverno.

“70% dos turistas que recebemos são franceses, principalmente famílias, seguindo-se os suíços e os ingleses. É preciso não esquecer que estamos a uma hora de distância de carro de Genebra. E sabemos que 80% das pessoas que nos visitam voltam no ano seguinte” conta-nos Marithé Crozet, diretora do Turismo de Megève. “O ski mas também a gastronomia, a alma da cidade, o ambiente e a tradição” são as razões que aponta para este encantamento.

Não há grandes unidades hoteleiras ou espaço para turismo de massas. O tipo de acolhimento aqui feito é muito personalizado, fazendo com que os hospedes se sintam em casa. Com apenas 3000 camas disponíveis em hotéis, há muitas residências secundárias que estão disponíveis para alugar, aumentando assim a capacidade da cidade, que no total tem 40.000 camas, como nos adiantou Marithé. O centro da vila, de circulação pedonal, tem um dos pontos de acesso às pistas, o teleférico de Chamois, mas também muito comércio, grande parte dele entregue a famílias locais, que desenvolvem a atividade de geração em geração. A circulação faz-se por caleches, puxadas por cavalos, conduzidas exclusivamente por proprietários das quintas da região. A eco responsabilidade é uma das preocupações das autoridades locais que estão, também, envolvidas num projeto pioneiro de captação e aproveitamento da água proveniente da montanha.

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Atualmente, Megève tanto recebe eventos de cariz internacional, como dinamiza pequenas celebrações locais. Há muitas galerias, mas também concept stores, com objetos, mobiliário e peças de arte contemporânea interessantes. O multipremiado fotógrafo Steve McCurry expõe os seus trabalhos na recém-inaugurada CTGallery e os famosos captados pela objetiva de Jean-Marie Périer decoram as áreas comuns do centenário Hotel Mont-Blanc. No Museu de Megève pode ser admirado um interessante apanhado da evolução do vestuário de ski com a exposição “Chic à La Montagne”. Nas ruas da cidade, espreitam as esculturas de Bruno Catalano, o artista convidado, este ano, a decorar Megève. Os seus “viajantes” desfragmentados surpreendem ao fundirem-se com a paisagem.

Origens de Megève   

Predominantemente agrícola, Megève abriu-se à atividade de ski em 1920, por iniciativa da família Rothschild. O ar puro, a encosta solarenga da vertente do Monte d’Arbois fez com que a baronesa Noémie de Rothschild aqui construísse uma residência de férias, onde não só fixou os seus, como anos mais tarde atraiu a endinheirada burguesia parisiense. Foi em Megève que surgiu o primeiro teleférico exclusivamente dedicado aos desportos de inverno, em 1933, depois do engenheiro florestal Charles Viard ter dado conta de que os esquiadores tinham de subir a montanha a pé para tirar prazer da atividade, enquanto que havia cabines de transporte de madeira que desciam carregadas e subiam livres. Aos poucos, a aldeia adaptou-se ao turismo. Principalmente durante a década de 60, quando passou a ser chique fazer férias em Megève. Jean Cocteau apelidou-a de “21º bairro de Paris” tal não era a quantidade de notáveis a circular na estância.

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A Estância de Ski

Distinguido pelos Rothschild, o Mont d’Arbois, mantém-se área emblemática de Megève, onde os hotéis de luxo e chalés proliferam. É neste setor que fica o campo de Golf de Megève, que recebeu, no início de fevereiro, a 15ª edição do BMW Winter Golf. O campeonato mundial de golf na neve reuniu atletas de todo o mundo, que se desafiaram nos diferentes torneios que decorreram durante os seis dias de provas. Philippe Guilhem, o organizador do evento, partilhou connosco o desejo de avançar para um campeonato mundial, com várias etapas, para os quais já tem duas cidades interessadas: Aspen, nos Estados Unidos e Dubai, nos Emirados Árabes.

Rochebrune é outra das vertentes da montanha, solarenga, com trajetos acessíveis a todos os membros da família. As cotas mais elevadas da estância, são ocupadas por pistas mais técnicas que vão receber, já em março, os campeonatos mundiais de ski cross e ski bosses. Há autocarros gratuitos a fazer a ligação, por estrada, entre as diferentes entradas da montanha, os Meg-Bus. Uma outra solução, bem mais ecológica, pode também ser adotada por esquiadores e snowboarders, portadores de forfait válido, que queiram fazer a ligação entre o setor de Jaillet e o centro da vila: as caleches de dois cavalos.

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O passeio raquettes na neve é outra das atividades possíveis na montanha. Os 12 graus negativos que se faziam sentir até poderiam ser dissuasores, mas a verdade é que ao fim de  20 minutos de caminhada, deixam de se fazer notar. As luzes dos chales na vertente do Mont d’Arbois suspendem-nos a respiração e somos convidados a prolongar a saída com um jantar num yurt, a típica cabana da Mongólia. A tradição local manda que seja servido um fondue de queijo, acompanhado de vinho branco. O genepy, um licor digestivo feito de uma planta das montanhas, pode ser, para alguns, a força de vontade para voltar a sair de perto do lume e voltar a mergulhar na neve.

Com o céu limpo, o Mont-Blanc recorta-se na paisagem. A partir do Altiport, localizado na cota de 2000m, é possível fazer uma viagem inesquecível de avioneta ao maciço da mais alta montanha dos Alpes. A transparência do teto faz-nos rodar a cabeça em todas as direções, de forma a admirar os mais afoitos esquiadores que o desafiam o Vale Branco, observar os glaciares que se erguem nas vertentes mais agrestes e percorrer os corredores de desfiladeiros, a poucos metros das escarpas. Sobrevoámos Chamonix e regressamos às pistas que já havíamos percorrido anteriormente, desta vez, com o dedo indicador a reconhecer os pontos de passagem obrigatórios. Uau… é a melhor maneira de o descrever este “passeio”.

Gastronomia, Alojamento e Animação

Os chalets em madeira vincam a paisagem local. Os interiores, decorados com grandes sofás, almofadas e peles inspiram calor e conforto à primeira vista. Há 70 restaurantes dentro e fora das pistas. Espaços para saborear um crepe ou um panini, mas também ementas que merecem atenção redobrada.

No centro da vila, o Flocon de Village é uma boa sugestão para saborear a gastronomia local. O restaurante pertence ao chefe Emmanuel Renaut, que mantém as três estrelas Michelin no seu Flocon de Sel. De forma mais descontraída e mais atenciosa para com a carteira dos clientes, promove aqui uma cozinha baseada em produtos locais, adaptada a cada estação. Um belo naco de carne com uma medalha de manteiga e ervas foi derretendo ao longo da refeição. Muito original é a Tarte aux pralinês rouges e sorbet fromage blanc, que pedimos de sobremesa. Também no centro, tivemos oportunidade de conhecer o Le Puck. Um risotto que é na verdade um tipo de massa cortada aos pedacinhos com queijo chèvre e pistacho foram boas opções. A tarte com ginjas e o éclair com creme de avelã deixaram-nos sem forças para testar o ringue de patinagem no gelo que se encontra em frente ao restaurante e nos parecia tão tentador à entrada.

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No cimo do Monte d’Arboir, o restaurante Ideal é a mesa dos esquiadores que não se contentam com uma refeição ligeira. O chalet localizado a poucos metros da saída das telecabines do Mont d’Arbois ou de la Princesse é a conjugação perfeita entre a boa cozinha e o ambiente requintado. A costeleta de vitela deslumbra a vista e as papilas gustativas. Tivemos aqui também a oportunidade de provar a famosa tartiflette de Megève, uma espécie de empada gigante com queijo reblochon, cebola, bacon e batatas. Possível, ainda que não acessível a todos, é passar a noite no piso superior do chalet. A suite pode ser alugada, a partir de 2000 euros a noite. Garantia de experiencia única e tranquilidade, neste luxuoso refúgio localizado a 1850 metros de altitude.

Quando se pergunta pelo “sítio da moda” em Megève, todas as vozes falam em La Folie Douce. Localizado no meio das pistas, no topo do setor de Saint-Gervais, é um conceito criado por Luc Reversade, inspirado nas festas de praia de Ibiza. De um lado tem self-service, do outro o restaurante La Fruttière, a fazer lembrar uma leitaria antiga. Se os esquiadores têm de parar a meio do dia, para comer qualquer coisa, porque não dar-lhes um pouco de espetáculo e loucura, também? Um DJ, números de cabaret, um cantor, músicos e bailarinas saltam para cima dos balcões e fazem esquecer as temperaturas negativas que os termómetros registam. Val D’Isère, Val Thorens e Courchevel já têm uma La Folie Douce. Andorra será a próxima abertura. Fecha às 17h00, com o encerramento das pistas. A festa segue para o centro da vila.

Les Challet dês Jumeax é um restaurante com música ao vivo, onde a noite se pode prolongar até madrugada. Musica ao vivo têm também o Le Cocoon e o Clube de Jazz the 5 Rues. Palo Alto, a discoteca, é o último poiso da noite. Com uma programação rica em DJs, o proprietário fala-nos dos tempos em que nomes como David Guetta ou Martin Solveig, aqueciam as noites de inverno. “Continuamos amigos, mas hoje é totalmente impossível ter cá qualquer um deles. Começaram aqui, mas hoje enchem estádios” conta-nos Bruno Morvant.

Da guest house ao luxo dos hotéis de cinco estrelas, Megève tem um grande leque de opções, que passam invariavelmente pela tradição e decoração alpina. Au Couer de Megève, mesmo no centro da vila, é um hotel de três estrelas com todo o conforto para quem pretende ficar, tal como o próprio nome indica, em cima do acontecimento. No centro há também unidades de cinco estrelas, como é o caso do Hotel M, renovado há cerca de dois anos, a cruzar design contemporâneo com apontamentos de decoração local, ou o centenário Hotel Mont-Blanc (quatro estrelas) cujos hóspedes famosos fazem a história desta vila. Nas paredes do bar-restaurante é possível, ainda hoje, admirar esboços deixados por Jean Cocteau, um dos clientes habituais deste espaço.

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Informações Práticas:

A TAP Portugal tem voos diários para Genebra. A duração média de um voo é de 2 horas e 30 minutos. De Genebra a Megève são cerca de 60 minutos e há várias empresas a fazer o serviço de transfer. Em Portugal são vários os operadores que têm pacotes para a neve, destaque para a Solférias tem pacotes férias de neve em Megève, a partir de 1263 euros, cujo preço base inclui avião, alojamento (7 noites), forfait (6 dias) e seguro. O Turismo de Megève disponibiliza serviços de informação e de reserva de atividades, bem como de alojamento local.

A equipa do C&H viajou para Megève com o apoio do Turismo de Megève e da TAP Portugal  logo_tap_pt– .

Agradece-se também o apoio logístico ao João Cruz – Departamento Neve do Operador Solférias

 

Autor:Reportagem de Tânia Fernandes e António Silva
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