O evento teve a particularidade de ter sido pensado e preparado pelo malogrado actor, que estava de tal forma optimista relativamente à sua recuperação que escolheu o local, convidou amigos, desafiou-os a cantar, discursas e a representar. Desta forma, muitos foram os que aceitaram o convite feito pelo próprio António Feio e que subiram ao palco do Auditório dos Oceanos.
Antes, a produtora UAU homenageou António Feio, ao dar ao camarim nº 1 do auditório dos Oceanos, utilizado pelo actor nos vários espectáculos realizados neste espaço, o seu nome, tendo sido descerrada uma placa comemorativa.
“Aproveitem a Vida” recorda o actor
A ideia de escrever um livro surgiu pouco depois do actor tornar a doença pública, altura em que a editora Livros d’Hoje fez a proposta a António Feio. Não seria bem uma biografia, seria mais um testemunho. Começaram a fazê-lo juntos, reunindo conversas gravadas, textos do próprio e depoimentos de outros.
“Durante todo o processo de preparação do livro, nunca me passou pela cabeça a ideia de não podermos contar com a sua presença para festejar a chegada do mesmo ao mercado”, escreve Maria João Costa no prefácio de Aproveitem a Vida, o livro que está à venda desde o dia 1.
Com depoimentos das filhas Bárbara e Catarina, dos actores José Pedro Gomes e Jorge Mourato, da produtora Sandra Faria e dos médicos Nuno Gil e Isabel Neto, o livro é quase todo narrado na primeiro pessoa. António Feio fala um pouco da sua vida – dos pais, dos tempos de Lourenço Marques, das mulheres que amou, de como se tornou actor – e arruma a carreira e os milhares de espectadores que os seus espectáculos tiveram em meia dúzia de páginas. Dedica mais espaço a falar de como descobriu que sofria de cancro no pâncreas, como lidou com a doença, o que é que mudou na sua vida no último ano e meio.
“Se há algumas coisas boas que a doença me trouxe, uma delas foi a possibilidade de rebobinar a minha vida”, escreve. Por isso, fala aqui dos sonhos que concretizou e dos que deixou por cumprir, do amor pelos filhos, da importância do apoio que teve (e reproduz algumas mensagens recebidas no Facebook de pessoas quem nem sequer conhecia) e de como é essencial aprender a falar sobre o cancro e a encarar a doença. “Sou um doente de risco”, diz, logo na introdução. “Foi-me diagnosticada uma doença que se revela fatal na maioria dos casos”.
“A mensagem que quero deixar às pessoas é que se há um problema é preciso resolvê-lo da melhor forma, há que não ficar quieto, há que tentar de tudo primeiro, não desistir”.
Texto de Cristina Alves