The XX E Tributo A Zé Pedro Marcaram O Arranque Do Festival Super Bock Super Bock

Reportagem de António Silva, Marina Costa e Tânia Fernandes

The XX - Super Bock Super Rock 2018

De regresso à beira Tejo, o Festival Super Bock Super Rock volta a celebrar a música no centro da cidade. Os britanicos The XX trouxeram, mais uma vez, o bailado de melodias poéticas a Lisboa. “Who The F*ck Is Zé Pedro” recordou canções com assinatura de Zé Pedro. Assim como outros projetos nos quais o guitarrista dos Xutos e Pontapés esteve envolvido, além da banda. Um espetáculo que trouxe muitos músicos portugueses ao palco da Altice Arena.

Romy Madley Croft, Oliver Sim e Jamie Smith são já bem conhecidos do público português. Estavam particularmente emocionados com o concerto, por marcar o encerramento da digressão europeia que durou cerca de dois anos. Assim, sem novidades, trouxeram o espetáculo que todos queriam ver. Com as músicas já bem consolidadas, os The XX mostram agora uma atitude mais segura em palco. Começaram em posições bem definidas, em palco, num ondular corporal que os caracteriza. “Dangerous”, “Islands” e “Say Something Loving” conquistaram logo à entrada. Em “Crystalised” Romy e Oliver aproximam-se num bailado musical que tocou o público. O som intenso a envolver o ambiente e a criar uma atmosfera especial. O minimalismo a dar alma a cada canção. Agradeceram emocionados e continuaram para “Sunset” com os ecrãs gigantes ajudar ao reproduzir as tonalidades do final de dia. “I Dare You” é quase uma experiência religiosa em que se sente a devoção dos admiradores.

Romi continua depois sozinha em palco (mas tão segura) com “Performance”. Depois de “Infinity” e “VCR” o público explode numa ruidosa ovação. “Muito, muito obrigado” agradece Oliver com emoção. A emoção cresce quando o músico anuncia “Fiction”, uma música que dedica a toda a comunidade LGBT, à qual acrescenta “eu sou um de vocês!”.

Longe da lotação máxima, percebe-se que a concentração de pessoas nesta data de festival é na Altice Arena para ver The XX. A plateia estende-se pelo recinto e todos dançam ao ritmo dos sintetizadores comandados por Jamie Smith, o músico que tem também uma carreira paralela de música eletrónica. Dão-lhe aqui espaço para trazer “Loud Places” do seu projeto Jamie XX. Depois de “Hold On”, cantada por todos, o público assiste ao momento mais intenso do espetáculo, em que Romi e Oliver descem a um palco mais próximo do público, num quase abraço de guitarras em “Intro”. Fecham o concerto com o belíssimo “Angels”, num ambiente emocionado e cheio de mensagem: “take care of each other”.

Em resposta ao desafio da organização, Tim e a Fred Ferreira coordenaram o Tributo a Zé Pedro. Who The F*ck Is Zé Pedro foi o título deste concerto, logo com uma ponta de humor, e recordar a t-shirt que o guitarrista usava, alusiva a Mick Jagger. O espetáculo trouxe um desfile de músicos portugueses e concentrou-se na figura mítica dos Xutos e Pontapés. Os temas que ele compôs para a banda, mas também as colaborações com outros músicos e projetos que integrou. Uma ideia bem estruturada, a precisar provavelmente, de mais rodagem. Por vezes, o espetáculo soou a números isolados, sem uma boa ligação entre temas e com pausas demasiado longas a quebrar o ritmo. O público oscilou entre a euforia, por exemplo Manel Cruz foi recebido como herói. No outro ponto extremo do (des)interesse, os Ladrões do Tempo, provavelmente por desconhecimento, não conseguiu grande empatia. Nos ecrãs, foram passando imagens de Zé Pedro, nas suas diferentes fases da vida.

Abriram com uma grande interpretação de “London Calling” (hino dos Clash) por Tó Trips, que seguiu ainda ao microfone para “Submissão”. Chamou depois Rui Reininho, que deixou “Morremos a Rir”. João Pedro Pais foi o convidado seguinte. Explicou que escreveu um tema, em março de 2017, que fala sobre os dois: “És do Mundo”.

A banda que acompanhou este lote de artistas é o mais familiar possível: Fred Ferreira (filho do Kalu), João Nascimento (filho do Gui), Joel Cabeleira (sobrinho do João Cabeleira), Marco Nunes (sobrinho do Kalu), Nuno Espírito Santo, Sebastião Santos (filho do Tim) e Vicente Santos (filho do Tim).

Os holofotes incidiram depois sobre Tomás Wallenstein que se fez acompanhar de António Reis Colaço (sobrinho do Zé Pedro) em “Morte Lenta”. Juntou-se-lhes depois Carlão com “Este Mundo É Teu”, que depois colocou a voz num registo inédito de rock para “Esquadrão da Morte”. Este último, Carlão disse que se recorda de ouvir em vinyl, com o irmão, na adolescência. Manel Cruz pegou no clássico “Circo de Feras” e fez dele um grande êxito. Chamou depois a “Nelinha” aka Manuela Azevedo, que expressou o nervosismo de partilhar o palco com Tim, pela primeira vez. Ouviu-se “Amor com paixão” e depois “Conta-me Histórias”.

Os Ladrões do Tempo e Paulo Gonzo também integraram este desfile. A seguir, Jorge Palma recordou os anos em que o ponto de encontro era na sala de espetáculos Johnny Guitar e do projeto em que se viu envolvido juntamente com outros dois músicos dos Rádio Macau. O Palma’s Gang reuniu Jorge Palma, Zé pedro, Kalu, Flak e Alex e deu noites memoráveis. Jorge Palma trouxe aqui também “Portugal, Portugal”.

Entram depois os membros dos Xutos para “Dados Viciados” e “Remar, Remar”. “Como diria o Zé Pedro, vocês são a razão de estarmos aqui” resume Tim. No final, os músicos juntam-se todos em palco para “Não Sou o Único”.

O palco principal fechou com a atuação dos Justice. Os parisienses Gaspard Augé e Xavier de Rosnay conduziram um espetáculo música de dança projetado no futuro. Passaram por “D.A.N.C.E.”, logo no início do concerto, um dos temas que lhes deu notoriedade e mais tarde “Phantom” e “DVNO”. Um aparato incrível de luzes ajudou a criar o ambiente de grande night club.

A tarde começou com o som corrosivo dos The Parkinsons. A provocação é a palavra que melhor descreve a atitude desta banda de punk rock português. Trouxeram alguns dos seus antigos êxitos, como também a apresentação ao vivo do mais recente álbum The Shape of Nothing to Come, editado em abril deste ano. Mesmo sem um mar de gente a assistir, no início de tarde, o vocalista Afonso Pinto saiu do palco e foi cantar para junto do público. Uma atuação incendiária, para quem estava a começar o dia.

Parcels no palco EDP tocaram com dispensáveis luzes de palco, face aos raios de sol a espreitar pelo Pavilhão de Portugal. A dupla de teclas australiana, Louie e Patrick, animaram este primeiro público ao som de uma pop eletrónica inovadora e fresca. O quarteto consegue misturar, sem medos os sintetizadores, as heranças de funk e folk, que nos permite ouvir e dançar ao som criativo destes rapazes, mais europeus agora.

Seguiram-se os Temples. Estes british boys conferem uma presença em palco e performance que impossibilitam ao público não dançar ao som de um rock rasgado e psicadélico, sem receios. “Certainty” foi o rasgo de energia para o concerto que se seguiria neste palco.

Num registo totalmente diferente, mas que permitiu que se sentisse um recinto mais composto, apresentou-se Lee Fields & The Expressions. Lee Fields, foi anunciado como estrela saída do passado. Surge vestido de branco, brilhante, como se viajássemos para os anos 60 em passos de dança imparáveis.  É desde os anos 60 que este mister do funk and soul compõe música. The Little JB com a sua voz poderosa esteve sempre comunicativo, em comunhão com o público que se deliciou com os músicos The Expressions. Lee dançou, cantou, e espalhou ritmos. “Work to do”, uma das músicas mais apaixonadas deste senhor, deixou-nos a retórica constante ao longo do concerto – “Can You Feel The Love Tonight?”.

O palco EDP encerra a noite da melhor forma ao som da energia estonteante dos boys The Vaccines. Uma boa aposta, num mix de indie e rock and roll ousado, ripado, com clara influência de rock de garagem. Estes rapazes trouxeram a energia dos anos 80. ”I Always New” mostrou que estes rapazes são a promessa viva do rock and roll. Trouxeram a simplicidade de um post-punk revival. A noite fechou o palco EDP ao som de “I Can’t Quit”.

A destacar no Palco LG Mirror People que conseguiram manter fiéis à dança os que resistiram a correr para o palco Super Bock. “É tão bom ver-vos aí a dançar”, dizia Rui Maia, que com este Voyager (re)criou a Pista de Dança que espelha a cumplicidade deste músicos que tem consigo.

O Super Bock Super Rock continua hoje com Slow J, Anderson Paak & Free Nationals e Travis Scott, entre outros. Os bilhetes encontram-se à venda nos locais habituais e custam 55 euros.

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