Num ambiente quase intimista, é-nos apresentado um Hamlet “aberto”, aberto a cada uma das personagens em palco e aberto ao público que é convidado a questionar-se, a sentir na pele a inquietação que nos assombra o mundo contemporâneo, e a intervir, de certa forma, naquele mundo desconcertante.
Tanto o jogo de luzes e a dinâmica sonora, como o silêncio e a escuridão, envolvem-nos naquele Hamlet perturbador que apesar de clássico, e sem fugir à sua história, se nos apresenta tão atual. A velocidade do seu pensamento, os jogos existenciais, que o levam a fingir-se de louco de forma a testar os seus limites e a provocar o engano dos outros que o vigiam, os seus diálogos interiores e as suas contradições pessoais, são no fundo também um pouco de nós nas nossas lutas existências, das nossas armas para sobreviver numa sociedade tão complexa, nas nossas próprias inquietações, e nos relacionamentos que temos com os outros e connosco próprios.
Encenada por João Garcia Miguel, Open Hamlet tem em palco os atores Ricardo Mendonça, Teresa da Silva e Vítor Gil Silva que, para além de personificarem, cada um à sua maneira, esta força de Hamlet, procuram reações de quem assiste à peça, numa interação muito original com o público.
Apesar deste universo “shakespeariano” quase trágico, não faltam momentos de humor, inteligentemente incorporados nas cenas, que nos fazem rir até de nós próprios.
Afinal, vivemos mesmo num mundo louco, que, à imagem de Hamlet, nos faz estar inquietos, e vamo-nos distraindo com algumas coisas para não enlouquecermos com a complexidade do mundo! Fica-nos uma questão: Os que fogem do “rebanho” são chamados loucos, mas afinal a loucura não estará no mundo que não entende os que questionam e ousam falar?
Uma Produção da Ar Quente – Associação cultural e Teatro Municioal de Faro.
Reportagem de Ana Horta (texto) e Paulo Sopa (fotos)