Em Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, o Diabo é visitado por vários recém-falecidos, O Fidalgo, o Onzeneiro, o Sapateiro, o Frade, a Alcoviteira, o Judeu, o Procurador, o Corregedor, o Enforcado e o Parvo que não querem admissão na barca do inferno e tentam a entrada na barca da glória, a todos recusada, menos ao Parvo e aos Cavaleiros mortos na guerra santa.
Esta encenação, ao transformar todas as personagens, que tentam a passar para o paraíso, numa só a de um Parvo atarefado em furar a todo o custo o exame moral faz justiça ao mais íntimo da obra original, na qual o Parvo é a figura mais humana, mais identificável com o próprio autor: franco na sua humildade, mas não passivo; frontal e provocador a defender o seu merecimento bobo, enfim, mas sabedor de todas as hipocrisias do mundo e o único pronto a mostrá-las. Aqui, vai mostrá-las sozinho num jogo teatral transparente de despe-veste afogueado.
O trabalho de encenação e cenografia propõe uma máquina de cena mutante, que preenche o espaço cénico. No centro da ação um instrumento cenográfico que, manipulado por um anjo-demónio, adquire variadas formas servindo de cenário para as paixões e medos do ser humano.
Os bilhetes estão à venda no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, pelo valor de 5 euros e há sessões dias 18 e 19 de abril às 15h00 (para Escolas) e 21h30 , dia 20 de abril às 21h30 e dia 21 de abril às 16h00.
Texto de Tânia Fernandes