Silence 4 reúnem-se para apresentar Songbook 2014 no MEO Arena

silence 4Reportagem de José Boaventura Rodrigues (texto) e Tiago Espinhaço Gomes (fotografia)

Os Silence 4 encheram o MEO Arena para apresentar o Songbook 2014, uma reunião da banda passados 13 anos para recordar o percurso de sucesso, matar saudades dos fãs e apoiar a causa da luta contra o cancro. Sem surpresas de maior, os Silence 4 conseguiram um bem sucedido reencontro com os fãs.

O início do espetáculo é anunciado com uma animação nos ecrãs do MEO Arena: uma compilação cronológica de notícias, concertos e entrevistas passadas que dá o mote à reunião de um dos maiores fenómenos da música portuguesa. Motivado pela sequência saudosista, o público aplaude efusivamente a entrada dos quatro elementos da banda (David Fonseca, Sofia Lisboa, Rui Costa, Tozé Pedrosa) e do teclista convidado (Paulo Pereira).

A decoração inicial do palco, quatro longos pares de cortinas vermelhas de estilo teatral, é invulgarmente sóbria para o imaginário colectivo da banda (o que acontecerá quando abrirem as cortinas?). No mesmo registo, mantendo as saudações costumeiras ao mínimo, os músicos tocam de rajada três temas sonantes do primeiro álbum (Silence Becomes It). “A Little Respect”, “Old Letters” e “Dying Young” são acompanhados de aplausos e cantos dos espectadores.

Dirigindo-se pela primeira vez aos cerca de 18 mil espectadores, David Fonseca anuncia a “canção que se tornou muito maior” do que a banda esperaria: “Borrow”. A cover do duo britânico Erasure, que constituiu o maior sucesso da banda, mostra uns Silence 4 seguros e confortáveis perante a multidão do MEO Arena (ainda que, até então, pouco expansivos). Talvez por isso se tenha aberto a primeira cortina para fazer entrar a representação suspensa de um peixe na água.
silence 4As primeiras memórias do segundo álbum (Only Pain is Real) são reveladas com “Don’t II” e “Not Brave Enough”. Ao desenrolar da cena acresce novo elemento visual: cadeiras suspensas sob o palco. Em breve, a banda retorna a Silence Becomes It para apresentar um conhecido tema em português: Sérgio Godinho, que aceitou em 1998 participar com escrita e voz em “Sextos Sentidos”, confirma a sua boa vontade subindo ao palco para cantar o tema, para agrado visível do público e orgulho evidente da banda.
De volta ao repertório inglês, o energético “My Friends” é acompanhado de um elemento inusitado: um carro suspenso vai descendo vagarosamente até pousar no palco. David Fonseca não se mostra surpreendido e, abandonando a contenção que vinha mantendo, assume o protagonismo subindo ao capot com guitarra a tiracolo e megafone na mão. Não sem antes passar por “To Give” (as cortinas centrais vão abrindo para revelar animações visuais dos temas seguintes), Sofia Lisboa permite a David Fonseca assumir o controlo do palco com os temas “Cry” e “Ceilings”. Os temas interpretados, e outros tantos que hão-de vir, raramente fogem à composição inicial: afinal de contas, os Silence 4 prometeram um songbook.
Naquele que foi o primeiro momento emocionado da noite, Sofia Lisboa (cuja batalha contra o cancro motivou a reunião a que se assiste), dirige-se ao público em tom de confidência revelando o receio que teve poder não vir a cantar “Angel Song” novamente. A comoção é geral, tanto para o público como para os músicos, com os elementos a abraçarem Sofia no final do tema.

Reconhecendo a carga pesada do momento, o alinhamento regressa para um registo mais ligeiro, com “Empty Happy Song” e “Where Are You?”. Os adereços estéticos não param de entrar (um farol insuflável ocupa agora uma boa porção do parte direita do palco) e os Silence 4 apresentam o introvertido “Eu Não Sei Dizer”, tema que, nas palavras de David Fonseca, terá provocado em tempos embaraço ao próprio por ser cantado em português. “Sleepwalk Convict”, concluído com ensemble de cordas em loop e a imagem de uma lua cheia no centro do palco, fecham a primeira parte do concerto e a saída da banda.

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O regresso não se dá no palco principal. No meio da arena, num palco de dimensão reduzida, os quatro artistas sentam-se em círculo, recriando a “pequena sala de ensaios” de outros tempos. Neste cenário segue-se novo momento de comoção. Sofia Lisboa homenageia a sua irmã (“salvou-me porque foi dela que recebi a medula”) com uma interpretação do tema “Invincible” dos Muse, canção que terá sido partilhada entre ambas em alturas de maior desespero. Visivelmente emocionada, Sofia é brindada no final pelo abraço da irmã em pleno palco.


O período intimista é percorrido com duas músicas que não chegaram a sair da sala de ensaios – “Self Sufficient” e “Silence Becomes It” (que deu nome ao primeiro álbum mas que acabou por ficar de fora da edição final) – e finalizado com “Goodbye Tomorrow”, tema que fez o público levantar os braços para o ar e acenar incontáveis luzes de telemóvel.Perante uma ovação intensa, a banda abandona o centro da arena e regressa ao palco principal. Primeiro com o sombrio “Search Me Not”, depois com o acelerado “Breeders”, os Silence 4 fecham o repertório de temas a tocar “uma só vez por concerto”. É feita uma pausa para reconhecimentos diversos (a equipa técnica, o convidado Paulo Pereira) e para o momento mais institucional e solidário da noite. Representantes da Liga Portuguesa Contra o Cancro sobem ao palco e é entregue um cheque de 30.000 euros (fruto de receitas de bilheteira) que reverterão a favor das atividades da instituição.

De volta à música, a secção final do espectáculo fecha com três temas repetidos, com vozes repartidas entre os vocalistas e o uníssono do público: “Borrow”, “My Friends” e “A Little Respect”. Perante um público que não pretende deixar os Silence 4 fugir novamente, a banda regressa ainda para um encore. David Fonseca não esconde o tom apologético ao pedir a voz do público para coroar o reencontro com mais um êxito repetido (“somos uma banda com apenas dois álbuns”): “Angel Song” fecha quase três horas de concerto que matou saudades dos fãs, a nostalgia da banda e, esperamos, um ou outro obstáculo na luta contra o cancro.

 

 

 

 

 

 

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