Regaleira resgata Principezinho do nosso imaginário infantil

Mercê do seu enquadramento paisagístico e arquitectónico (idealizado pelo arquitecto e cenógrafo Luigi Manini em princípios do século XX), a Quinta da Regaleira (a cinco minutos a pé do Palácio Nacional de Sintra) tem-se distinguido, no último decénio, como um dos mais apetecíveis locais para apresentação de espectáculos performativos ao ar livre.

E se da próxima vez que for à Quinta da Regaleira se deparar com um pequeno menino loiro que acha que vive noutro planeta e que passa os dias na conversa com uma raposa, não se alarme. A companhia de teatro Byfurcação tem em cena neste espaço idílico a história de O Principezinho, épico infantil escrito por Antoine de Saint-Exupéry e que tem alimentado os sonhos de muitas gerações de crianças. O C&H foi assistir à peça e também se deixou encantar.

O espaço cénico ocupa o jardim adjacente à Oficina das Artes, envolvido por pequenos edifícios, um mirante e um castelinho românticos, bem como, em todo o seu perímetro, por frondosos carvalhos e castanheiros.

“O cenário é uma instalação, entendida como uma escultura que descontextualiza a incontornável paisagem, subvertendo a sua escala; transfixando-a.

Um deserto branco onde um aviador foi forçado a aterrar e se materializa a miragem de uma miríade de planetóides, alguns deles habitados por seres, afinal nada estranhos, muito terrenos aliás.“

Além da presença de um avião real (um Auster D-5/160 que possui uma envergadura de 9 metros), os demais elementos cenográficos foram pensados pela artista plástica Paula Hespanha e pelo arquitecto Manuel Pedro Ferreira Chaves, que se encarregaram de desenvolver uma instalação que funciona como cenário, mas também como obra plástica de valor intrínseco.

Esta instalação, devedora aos princípios da «Land Art», na qual o terreno natural, em vez de prover o ambiente para a obra de arte, é ele próprio trabalhado de modo a integrar-se nesta obra aberta aos visitantes da quinta, todos os dias também fora dos horários de representação, num conceito muito pouco habitual no teatro.

O espectador é envolvido numa experiência cénica, em parte graças à peça se desenvolver na Quinta da Regaleira, um lugar encantatório que possui, em si mesmo, as características – arquitectónicas e simbólicas – que apontam para a ideia de viagem (exterior/interior), alicerçando a dramaturgia cénica de O Principezinho.

Todos os leitores são românticos naquela primeira vez em que se oferecem ao livro O Principezinho, com a inocência toda de um amor sublime: o desengano do aviador com as pessoas crescidas, o difícil e incondicional amor do Principezinho pela sua rosa única, os egocêntricos alienígenas decalcados dos egocêntricos terrestres. a branda melancolia que fica do regresso do espírito do menino ao seu asteróide… tudo isto contribui para o prazer da leitura, da fruição das imagens e do livro em si.

E o encenador Paulo Campos dos Reis conseguiu transpor tudo isto para o artesanato teatral, sem tocar a simplicidade e fluência das imagens do livro.

Nesta peça é possível entrever o livro em todas as suas substâncias simples em que se compõe: símbolos e metáforas. É, ainda, a mesma claridade, incólume à nossa passagem pelo tempo, depois das primeiras leituras feitas na inocência da infância. Este é um resgatar da primeira sensação.

O Principezinho na Quinta da Regaleira pode ser visto de sexta-feira a domingo, à 17h00, até dia 9 de Outubro. Entre os dias 4 de Agosto e 8 de Setembro, a peça é levada à cena também às quintas-feiras. O valor dos bilhetes é de 7 euros.

 

Ficha técnica
Dramaturgia e direcção: Paulo Campos dos Reis
Intérpretes: Paulo Cintrão, Regina Gaspar, Ricardo Soares, Susana Gaspar
Música original: Bruno Béu
Instalação cenográfica: Paula Hespanha e Manuel Pedro Ferreira Chaves

Por Cristina Alves

 

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