Pedro Abrunhosa Inteiro: 20 anos a espalhar contemporaneidade

Pedro AbrunhosaReportagem de Madalena Travisco (texto) e Joice Fernandes (fotografias)

Depois de Pedro Abrunhosa entrar no palco com lanterna na mão, o Meo Arena não voltou a ser mesmo. Palco e plateia confundiram-se nos refrões, nas coreografias e até nas presenças dentro e fora de palco. Foi uma celebração festiva que trouxe do passado as “coisas boas” com novos arranjos, como quem olha o presente sobre o passado.

“Leva-me de volta a casa, abre as portas do jardim” do “Voámos em contramão” foi o primeiro dos refrões literalmente declamado pela plateia, que não mais parou de interagir com os músicos. “Hoje é o teu dia” trouxe os fotógrafos para cima do palco, acontecendo o mesmo para os muitos (mais muitas)  que aceitaram o repto de cantar  “Pontes entre nós” a partir do palco e daí ver a plateia de braços no ar. 

Foi sempre um espetáculo aberto, em plena interação com o público:
“Boa noite Lisboa! Se estão prontos para a festa, digam eu
Se estão prontos para a celebração, digam eu
Quem estiver vivo aqui, diga eu “
Ouviram-se “eus”, refrões, palmas e “úuuuhs” pelas três horas das muitas “Viagens” de 20 anos. Sem saudosismos, lembrando aqui e ali, o quão atuais são os temas deste compositor, também ativista de causas. Todas as crianças têm direito a uma família; não existem deuses que percam tempo a matar pessoas (que fazem desenhos); são os silêncios que causam roturas e caos no mundo (pelas palavras que ficam por dizer), entre outras, explicam o alinhamento.

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Demonstrando gratidão, homenageou um amigo, companheiro da estrada da música e da estrada da vida pela tenacidade, luta e bondade: “aquele que era o primeiro a chegar para ligar os cabos e o último a sair a levar um por um a casa” dedicando-lhe o “Toma conta de mim”.
Completaria o alinhamento original com 20 temas que incluíram “Não posso mais”, “Momento”, “Socorro”, “É preciso ter calma”, “Se eu fosse  um dia o teu olhar”, “Lua” e “Vamos fazer o que ainda não foi feito”.

Com braços no ar, mãos em posições bizarras, rabos levantados das cadeiras, vozes desconcertadas, fez-se o que ainda não tinha sido feito: um espetáculo em que as regras permitiram fotografar de todos os lados durante todo o tempo, um concerto em inteira interação com o público. Pedro Abrunhosa mostrou-se inteiro na Meo Arena na noite de dia 7, “maestrando” o público nas letras e nas coreografias,  colocando todas as pessoas a saltar ao mesmo tempo, trocando os chãos e mostrando como o tempo teve asas. Com ele estiveram os Comité Caviar, Edgar Caramelo, Mário Barreiros, um quarteto de sopros e quatro vozes femininas nos coros.

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O primeiro tema do (iluminado) encore – “Eu não sei quem te perdeu” – apela à  verbalização dos afetos, tão importante nos tempos que correm. Os dois temas seguintes iluminaram literalmente a arena: Camané  – esse vulto da música que tem bondade na voz – juntou-se a Pedro Abrunhosa na emblemática canção “Para os braços da minha mãe” e em “Ilumina-me” que fez acender as lanternas dos telemóveis na arena. As luzes acender-se-iam definitivamente, cerca de três horas depois, no final de um partilhado “Tudo o que eu te dou, tu me dás a mim”.

 Obrigaaaaaaado! Boa noite!

 

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