Museu Calouste Gulbenkian Com Três Novas Exposições No Espaço Projeto

Três artistas de geografias distintas vão marcar a programação de 2019 do Espaço Projeto do Museu Calouste Gulbenkian, com trabalhos ancorados na história e no legado do colonialismo e nos processos de descolonização (das narrativas, dos saberes, da imaginação). São eles: YTO BARRADA, FILIPA CÉSAR e IRINEU DESTOURELLES, com curadoria de Rita Fabiana.

A primeira exposição, que inaugurou no dia 8 de fevereiro, é de YTO BARRADA, uma artista franco-marroquina que tem desenvolvido uma obra fortemente marcada pelas narrativas da história e das identidades, nomeadamente a marroquina.

Yto Barrada apresenta um conjunto de trabalhos que explora e prossegue o seu interesse pela figura histórica, singular e «trágica» da etnóloga francesa Thérèse Rivière (1901-1970). A frase que dá título ao projeto, Moi je suis la langue et vous êtes les dents (eu sou a língua e vós os dentes), é um excerto de um dos cadernos de anotações de Thérèse que, entre 1934 e 1936, estudou a etnia berbere Chaouias nas montanhas do Aurès, na Argélia. Os cadernos, desenhos e fotografias que produziu, bem como a coleção de objetos que reuniu, esquecidos e “silenciados”, são aqui resgatados por Yto, num gesto de identificação com os ausentes e de resistência contra a despossessão da palavra (da língua). A esta trama da História, a artista entrelaça narrativas da sua própria família, tecendo novas relações onde se cruzam os fios das memórias pessoais e coletivas. A obra de Yto toma forma numa ida e volta constante pelos tempos, lugares e artefactos da história, num processo de trabalho que se inicia muitas vezes na recolha de histórias e objetos que juntos formam um dialeto poético.

Esta exposição está patente até ao dia 6 de maio de 2019, de quarta-feira a segunda-feira, das 10h00 às 18h00. Encerra à terça. A entrada é livre.

Seguem-se as exposições da artista portuguesa FILIPA CÉSAR (de 31 maio a 2 setembro 2019), sobre a gentrificação nas Ilhas Bijagós e do cabo-verdiano IRINEU DESTOURELLES (de 27 setembro 2019 a 6 de janeiro de 2020) que reflete a partir da sua própria condição de diáspora e das suas experiências sociais em espaço urbano, a partir de cidades como Lisboa, Mindelo e Londres.

Paralelamente, e em articulação com a programação do Espaço Projeto, terá lugar em setembro (de 27 a 28), na sala Polivalente, uma Conferência internacional, intitulada Where I Stand, um lugar que é aqui simultaneamente geográfico, histórico, cultural, político e mental, com participações que trazem para o debate tanto o legado colonial, como as novas narrativas emancipatórias, nomeadamente a do feminismo negro. Já em Março (13 a 16) terá lugar uma Mostra Ameríndia, com um ciclo de Debates e de Cinema Indígena no Brasil, organizado em colaboração com a DocLisboa e a FCSH – UNL. Em Junho, sempre às sextas-feiras e Sábados, a Sala Polivalente apresenta um Ciclo de Cinema Abstrato, intitulado Do cinema alquímico ao ecofemenismo, com curadoria de Margarida Mendes.

Autor:Texto de Ana Francisca Bragança
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