Missa do Galo “prendeu” público do Trindade, em Lisboa

Reportagem de Sara Santos (fotos) e Elsa Furtado (texto)

Os nomes dos autores já por si são sinónimo de sucesso, poesia e boa escrita, em Missa do Galo, estas características ficam mais que comprovadas, ou não fossem Carlos Tê e Manuel Paulo, dois dos autores mais aprecidos da atual música portuguesa e de cantores como Rui Veloso e Luís Represas.
A peça, designada como “cantata pop” estreou ontem à noite (sexta-feira, dia 20), na Sala Principal do Teatro da Trindade, uma sala que faz questão de continuar a cumprir o seu papel de Sala de Teatro “Popular”, como tão bem habitou os lisboetas (e não só) desde o século XIX, e conquistou o público presente.

Em a Missa do Galo, as metáforas e os eufemismos são características recorrentes. “A estrutura da peça é inspirada na tradicional Missa do Galo transmontana, seguindo a estrutura dramática e litúrgica da missa católica romana, com desgarradas assentes em motes do Evangelho, acompanhadas à concertina, aqui substituídas por canções, mas retracta também uma realidade completamente urbana”, segundo explicou Carlos Tê numa entrevista.

No centro da acção está o “Galo”, que personifica o homem que ascendeu ao poleiro da ciência e da tecnologia e que, perante a sua prosperidade, continua a padecer de inveja, mesquinhez e ganância.
A missa socorre-se da metáfora duma barca que num roteiro de factos, alerta contra os perigos da repetição e do esquecimento. Nesse percurso o galo tropeça num paradoxo: o conhecimento concedeu-lhe o livre-arbítrio e do preço da liberdade, da solidão da responsabilidade. O galo é visitado pelos seus fantasmas interiores, juízes da consciência que o vêm julgar por ter substituído o humanismo dos últimos cinco séculos pelo neo-liberalismo dos últimos trinta anos, onde as pessoas são apenas números e estatísticas. O veredicto é ser transformado em arroz de cabidela, num sacrifício votivo e solsticial.


Destaque para a “Gaiola”, onde decorre grande parte da acção e onde o “homem-galo” está enclausurado, um pouco como todos nós, numa sociedade regida por leis, regras e convenções.

A encenação é da responsabilidade de Luisa Pinto, com cenografia de João Mendes Ribeiro e conta com interpretações de António Durães, Flora Miranda, Isabel Carvalho, João Miguel Mota e Rui David. A parte musical está a cargo de André Hollanda (bateria/toy piano), Marco Nunes (guitarra), Miguel Ramos (Baixo) e Pedro Vidal (guitarra/pedal steel/banjo).

Os espetáculos são de quarta a sábado, às 21h00 e domingos às 16h00, até dia 29 de janeiro e os bilhetes podem ser adquiridos na bilheteira do Teatro, e variam entre os 8,50 euros e os 15 euros.

Um musical a não perder, onde o humor, a inteligência dos diálogos, e a boa música ao vivo são os ingredientes principais. Para breve, os autores prometem lançar o cd com a banda sonora da peça.

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