Macbeth em cena no Chapitô

Por Sara Peralta (texto e fotos)

m16Na Tenda do Chapitô transforma-se tragédia shakespeariana em comédia com recursos mínimos, em Macbeth – Esta 32ª criação da Companhia do Chapitô estreia a 24 de Janeiro e mantém-se em cena até 17 de Março.

Segundo John Mowatt, encenador, “De todas as peças de Shakespeare, Macbeth é a mais obsessivamente preocupada com o mal”.

“A ambição é o motivo que leva à conspiração contra a vida de um rei. Lady Macbeth, movida pelo desejo de vingança e pela ambição de tornar-se rainha, seduz Macbeth a cometer o assassinato do Rei Duncan, pretendendo assim herdar o trono.”

Trata-se da única peça de Shakespeare ligada à situação histórica da Grã-Bretanha do século XVI, baseada em factos reais, e o seu ambiente é sombrio, seguindo as tenebrosas acções das personagens na sua sede de poder. Porém, pelas mãos do Chapitô, a atmosfera fúnebre dá lugar a gargalhadas.

Valoriza-se a interpretação física, quebram-se barreiras convencionais, usa-se ironia e comédia de situação, brinca-se com as personagens, e reinventa-se assim a aproximação a este texto de Shakespeare.

Aqui, o cenário, ou antes, a falta dele, torna-se quase uma personagem, interveniente na peça justamente pelo seu minimalismo. Em cena, três actores, três microfones e respectivos tripés, e pouco mais.

Os kilts encontram múltiplos usos, e, ao serem usados ora na cintura ora no peito (imitando um vestido), distinguem personagem masculina de feminina, ou tornam-se ainda nos mantos das bruxas. Os tripés, esses, jamais viram tanta versatilidade, servindo desde armas à estrutura de um baloiço. Digamos que, em tempo de crise, calha bem, e a resposta do público à criatividade demonstrada é positiva.

O próprio texto chama por vezes a atenção para a ausência de elementos físicos: “Não pode entrar porque a porta está fechada” – “Mas não há porta!”. Com efeitos sonoros realizados em cena se representa o vento, um chicote, cavalos, o abrir de uma porta, etc. E, no momento, o improviso: “Ó Macbeth isto ‘tá tudo enleado” (referindo-se aos cabos dos microfones).

Pegam numa tragédia para a transformar em comédia, partindo de um palco vazio, e a acção nasce da interacção entre actores, do uso do espaço, dos elementos presentes. Lutam, saltam, fazem de mortos, gritam, dançam, fazem rir.

 O que é que oculta um kilt?
Barão?
Pois barão duas vezes!!
Fá-lo Rei!
Como?
Por trás de um grande homem…
Uma Lady?
Será ele capaz?
Sim…eles fazem tudo!! Até cavam o seu
próprio destino!
Acreditam em bruxas?
Mas o que é que isto tem a ver com o
Kilt?
Já vão ver!!
Era uma vez um Rei…

Macbeth é uma tragédia de William Shakespeare “inadaptada” pela Companhia do Chapitô, com encenação de John Mowat e interpretação de Jorge Cruz, Ricardo Peres e Tiago Viegas.

Em cena na Tenda do Chapitô, de quinta-feira a domingo às 22h00. Os bilhetes custam 12 euros, com 50% de desconto para maiores de 65 anos, profissionais da área mediante comprovativoe grupos a partir de 10 pessoas.

 

 

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