Menos de dez minutos separam o aeroporto internacional do centro da cidade. Não, não estamos na Portela, mas em Findel. Ao longo dos seis quilómetros de viagem, o Luxemburgo – que se espera de castelos e de fortificações – apanha-nos desprevenidos com uma paisagem que mais parece saída de um filme de ficção científica.
Estamos em Kirchberg, onde edifícios de vidro e aço albergam multinacionais, bancos (muitos!) e alguns dos mais importantes organismos da União Europeia. O único centro comercial da capital e um complexo de cinemas saltam à vista, bem como alguns ginásios e equipamentos criados a pensar nos burocratas que por aqui passam os dias.
Kircherg foi também o local escolhido para a construção do MUDAM, museu de arte moderna inaugurado em 2006. Lembra a pirâmide do Louvre? Pois claro, ou não fosse uma criação de Ieoh Ming Pei. Com o seu formato de diamante, o edifício destaca-se ainda e sobretudo pelo facto de estar junto ao que resta do Forte Thungen, representando assim o encontro do passado com o futuro. Mas aqui não há Picassos nem Pollocks. Na verdade, o nome do museu está errado; no MUDAM é a arte contemporânea que reina, tanto na mostra permanente como nas temporárias. A poucos metros, e também integrado no belo parque Dräi Eechelen, encontramos o Museu Militar, onde é possível conhecer a atribulada história bélica do Luxemburgo. E este é apenas um dos muitos contrastes que nos esperam.
E é num ápice que o centro da cidade nos recebe, com as suas pontes que atravessam os rios e os seus parques verdejantes. Foi aqui que tudo começou em 963, quando o conde Siegfried construiu uma fortaleza no promontório de Bock. A obra cresceu e a cidade acabou por dar nome a um país chamado Luxemburgo, palavra que significa pequeno castelo.
Um dia basta para conhecer esta cidade afamada pelos miradouros, conhecidos localmente como varandas. É deles que se vislumbra a paisagem que joga com o verde da natureza e o branco dos edifícios. Lá em baixo, o rio corre calmo.
E é a mesma paz que se encontra nas ruas imaculadas na zona velha da capital, tranquilidade que contrasta com séculos de cobiça por parte dos vizinhos, ou não estivesse o Luxemburgo no centro da Europa, numa posição estratégica invejável.
A história do grão-ducado estende-se às igrejas, como destaque para a catedral de Nôtre-Dame, a dois passos do Boulevard Roosevelt, a principal artéria da cidade, animada na quadra natalícia por um animado mercado. Indispensável é a passagem pelo palácio dos grão-duques, hoje sede do parlamento. Mesmo em frente, a gula fala mais alto numa chocolaterie, cuja especialidade são as colheres embutidas em cubos de chocolate para a confeção de chocolate quente. Difícil mesmo é escolher, tantos são os sabores.
Mas se o interesse for mesmo mais cultural, nada como uma visita ao Museu de História da cidade, onde para além da exposição permanente dedicada a várias eras se encontram mostras temporárias. Entre maquetas da fortificação, armaduras e pinturas flamengas, é impossível resistir ao enorme elevador panorâmico do edifício que, com os seus 18 metros quadrados, consegue albergar algo como 65 pessoas.
Do Grund, zona mais velha da cidade, caminhamos durante poucos minutos até à Grand Rue e à Rua Philippe II, verdadeiros paraísos para quem não dispensa as compras. Aqui encontramos lojas de marcas internacionais, da cosmética ao pronto-a-vestir, passando pela alta-costura, mas também afamadas patisseries onde os bolos e os chocolates são verdadeiras obras de arte. A vida noturna, essa não se pode dizer que seja das mais movimentadas. Mesmo assim, durante o inverno, é possível dar um salto até alguns pubs e bares, com música ao vivo. No verão, sim, a cidade anima-se com diversos festivais de rua dedicados às mais diversas artes.
No centro das Ardenas luxemburguesas, ergue-se a comuna de Clervaux, também ela conhecida pelo seu castelo, onde pode e deve ser vista Family of Man, exposição de fotografia organizada por Edward J. Steichen, na década de 1950. Na altura, o fotógrafo luxemburguês ocupava o cargo de curador do MoMa de Nova Iorque e conseguiu reunir mais de meia centena de imagens de 273 fotógrafos, entre os quais Henri Cartier-Bresson, Robert Capa, Dorothea Lange ou Robert Doisneau. Depois do sucesso da sua tourné mundial em 1950/60, a exposição acabou por ser oferecida pela administração norte-americana ao Grão-Ducado do Luxemburgo, cumprindo assim o desejo de Steichen.
Hoje Património da Humanidade da UNESCO, Family of Man não deixará ninguém indiferente, conseguindo despertar as mais diversas emoções, que vão desde o apreço pela natureza artística das obras à perplexidade perante as imagens da fome e da guerra, passando pelo mais desgarrado dos sorrisos com os instantâneos de momentos repletos de romantismo e celebração.
Tal como esta mostra que retrata a humanidade, também o pequeno Luxemburgo se revela único nos seus contrastes. Os fortes seculares convivem com os enormes edifícios contemporâneos; inúmeras nacionalidades partilham escritórios e lojas no centro da cidade; vários são os idiomas que por aqui se falam desde os bancos da escola. Verdadeira manta de retalhos, este país central em tempos tão disputado, vale bem a pena a visita, não devendo passar despercebido durante dois ou três dias numa escapadinha ou numa viagem mais prolongada que, como num passe de mágica, se estenderá à Bélgica, à Alemanha ou à França.
O C&H viajou para o Luxemburgo a convite da Easyjet