Kendrick Lamar A Ditar O Sucesso Do Terceiro Dia De Super Bock Super Rock

Reportagem de Pedro Fonseca, Tânia Fernandes e António Silva

O 22º SBSR encerrou em delírio com o californiano Kendrick Lamar a encher o MEO Arena. Foi ele quem arrastou a multidão que fez esgotar este último dia do festival. Mas num dia dedicado ao hip-hop, outros nomes se destacavam, como os menos novos De La Soul, os portugueses Orelha Negra e Capicua, um tributo a Prince por Moullinex e a celebração do 30º aniversário do álbum Psicopátria dos GNR.

O norte-americano Kendrick Lamar funde o rap com o jazz, soul e funk e ainda lhe junta umas guitarras quando pretende dar maior ênfase às suas palavras. E é mesmo essa a base do seu sucesso, a facilidade com que estabelece comunicação com as camadas mais jovens.

Desde o início da tarde que se assistiu a uma afluência fora do normal ao recinto do Meo Arena de forma a marcar lugar na frente, para assistir ao concerto o mais perto do ídolo possível. “Look both ways before you cross my mind.” É a mensagem assinada por George Clinton que se lê em pano de fundo e é uma reflexão sobre a forma como os artistas negros são explorados pela indústria do entertenimento. Kendrick Lamar têm muitas histórias para contar e opiniões firmes sobre a atualidade que debita em rimas melódicas ao longo da noite. Percorre o palco de um lado ao outro, de forma enérgica, gesticula e entrega as suas mensagem a um público que está ali para o ouvir, mas também para cantar com ele. É impressionante o coro de vozes que o acompanha e não estamos a falar de refrões repetitivos.

To Pimp A Butterfly é o seu mais recente álbum, do qual trouxe alguns temas como “Institutionalized”, “These Walls”, “For Sale”, “Hood Politics”, “Complexion (A Zulu Love) ou o explosivo “King Kunta”. O público retribuiu com a habitual e dedicada entrega e num momento em que Kendrick Lamar admirava a loucura generalizada, foi ainda brindado com um dos mais ouvidos coros de todo o festival “Foi o Éder que os …”.

A temperatura no Meo Arena estava próxima do ponto de ebulição e, mesmo na bancada, a maioria assistia de pé ao concerto. Para o final, atendeu ao pedido especial de uma fã para “For Free?” e já em encore, fechou com a garantia de que todos queriam levar para casa “Alright”. (Do you hear me, do you feel me? We gon’ be alright).

Os Orelha Negra abriram o palco principal neste último dia de SBSR. Com o novo álbum bem fresquinho para ser mostrado ao muito público, o hip-hop contagiante e de alegria transbordante não deixou ninguém indiferente e muito menos parado ao longo do concerto no Meo Arena. Estes portugueses irreverentes sabem bem como aquecer a plateia e conseguiram mantê-la assim até ao fim.

Quando muitos já ansiavam pelo cabeça de cartaz, os De La Soul, reconhecidos pelo seu hip-hop alternativo desde que apareceram em 1987, encheram de alegria e boa disposição a multidão já presente no Meo Arena. Com uma entrada animada e em constante interacção com o público, começaram por brincar com a febre dos telemóveis e registos fotográficos, obrigando o publico a baixar as câmaras e colocarem os braços no ar para sentir a música. Mas não ficaram pelo público, alargando a exigência aos fotógrafos. Não deixaram de tocar alguns clássicos como “Me, myself and I” ou “Feel Good Inc.”, que levaram todos a pular a bom ritmo.

A portuense Capicua tem em palco aquela energia inesgotável do coelhinho das pilhas, e mais uma vez foi impossível ficar parado a assistir ao seu concerto no palco EDP. Com um gosto e requinte especial pelas palavras comprovou ser reconhecida como a rainha do hip-hop feminino português.

Passaram ainda pelo palco EDP os Fidlar, com batidas fortes de um rock enérgico, a promissora norte-americana do soul e R&B que tem em Bjork uma admiradora, Kelela, e ainda os menos conhecidos The Parrots com o seu garage e surf-rock.

30 anos de Psicopátria foram celebrados pelos GNR num concerto especial, neste último dia de SBSR. E de uma ponta à outra, Rui Reininho e os habituais companheiros revisitaram o álbum, passo a passo, dando por vezes uma nova roupa a alguns dos temas bem conhecidos. “Bellevue”, “Efetivamente”, “Ao Soldado Desconhecido”ou “Pós Modernos” foram tocados num horário em que tinha por concorrência, noutro palco, Moullinex e o tributo a Prince com vários convidados, o que poderá explicar a quebra de afluência. Ainda assim, os presentes terão memórias, certamente, do lançamento de Psicopátria, que aqui puderam recordar.

O palco Antena 3 fechou com chave de ouro com um tributo a Prince. Os Moullinex não quiseram deixar passar em claro o desaparecimento do cantor, compositor, multi-instrumentista, produtor e dançarino norte-americano, e dedicaram-lhe este tributo denominado “A Purple Experience”, que contou ainda com as presenças de alguns convidados como Samuel Úria, Best Youth, Selma Uamusse, entre outros. Este palco contou ainda com os eletrónicos Salto e o seu novo “Passeio das Virtudes”, o irreverente e criativo Mike El Nite e o hip-hop de Slow J.

O Parque das Nações revelou ser, pela segunda vez, um bom anfitrião para este festival, ao deixar a música dentro da cidade, com toda a facilidade que isso permite em termos de deslocações e logística. O tempo de verão com que S.Pedro nos brindou permitiu viver o espirito festivaleiro, com tempo de descontração e convivo à beira rio, entre as atuações dos músicos.

O festival regressa em 2017, para a 23ª edição, nos dias 13, 14 e 15 de Julho, no Parque das Nações.

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