Jamie Cullum tocou em Serralves, onde, mais uma vez, mostrou a sua versatilidade e o carisma que lhe é característico.
Habituámos-nos a ver um dos mais belíssimos jardins do Porto abrir para ver as mais irreverentes criações artísticas da arte contemporânea, mas esta sexta-feira o afamado Jardim de Serralves foi palco de um concerto de Jamie Cullum.
Com um público a chegar a conta-gotas, a prestação do cantor inglês começou com um ligeiro atraso, mas sem incómodo para os presentes que aguardavam calmamente nos seus lugares atribuídos, com exceção da última fileira, cedo cerrada e sem marcação, mas quilometricamente mais distante da arena do animal de palco que se seguiria. Cullum começou com a sua mais recente música “Work of Art”, seguida de “When I Get Famous” e “Don’t You Know”.
Os pulos – de tanta a excitação do vocalista – contrastavam com os evidentes, mas lentos, baloiçares da plateia que timidamente se ia revelando. Para o êxtase total ainda faltariam muitos dos seus clássicos ecoarem no seio do parque que ainda ouviria “Don’t Stop The Music”, cover de Rihanna, ou as repescadas “Next Year Baby” e “What a Difference a Day Made”, do álbum “TwentySomething”, de 2003, ou ainda “Save Your Soul” e “You’re Not The Only One” do álbum de 2013, “Momentum”. De Jimi Hendrix e Ed Sheeran, também se ouviria as nada estranhas “Wind Cries Mary” e “Shape of You”, respetivamente.
Há, claramente, a partir daqui, uma divisão entre aquilo que estava a ser o concerto e aquilo em que se transformou. Num eletrizante apelo (mais um), Jamie desce do palco e num lanço vertical percorre a plateia a quem pede que se junte, desta feita, na zona vulgarmente reservada, nos inícios de espetáculo, aos fotógrafos. Se havia ainda encadeirados, rapidamente deixaram de existir. E, numa questão de segundos, a multidão reuniu-se na frontline, numa altura em que reinavam os improvisos, como na canção “Everybody Loves the Sunshine”, de Roy Ayers. E até houve mesmo quem saltasse barreiras para se juntar ao momento de magia que acontecera ali.
Seguir-se-ia agora uma nova fase, com o público finalmente liberto junto ao cantor inglês. “Everthing You Didn’t Do” e “Get Your Way” foram intercalados com um “Happy Birthday” à mãe, seguindo-se “All at Sea” e “High and Dry”, num coro afinado ministrado pelo maestro de serviço que, na “Mixtape”, e com a ajuda da banda, vê o público a imitá-lo fervilhosamente num encore coletivo.
Depois de abandonar o palco, Cullum retorna, após o chamamento do público, sozinho e tendo como banda sonora um improviso – típico das suas tocadas – dedicado ao Porto e ao público com “Blackbird” dos Beatles, a fechar a prestação do inglês. Em suma, uma subliminar apresentação do cantor de 37 anos que, com a harmonia de todos os instrumentistas com quem (e muito bem) partilha o palco, transformou Serralves numa autêntica festa.
Terminada a atuação, o compositor britânico despediu-se, percorrendo de carro os jardins, enquanto era fortemente acarinhado e aplaudido pelos fãs.
Jamie Cullum sobe hoje ao palco do EDP COOL JAZZ, no Parque dos Poetas, em Oeiras.