O Hip Hop Atravessou O Cartaz No Segundo Dia De Festival Super Bock Super Rock

Reportagem de António Silva, Tânia Fernandes e Marina Costa

O rapper norte americano Future chamou ao festival Super Bock Super Rock uma faixa etária mais jovem, amante de hip hop. London Grammar, o português Slow J e o projeto Língua Franca foram as outras estrelas da noite.

Uma linha condutora de hip hop atravessou o segundo dia de festival Super Bock Super Rock. Future, o nome grande do cartaz apresentou um concerto forte em ritmo, palavras e jogos de luzes. O rapper fez-se acompanhar apenas de três bailarinos, sem deixar ver qualquer tipo de banda ou dj. Será este o futuro da música ao vivo? Carregar no play e fazer apenas uso da voz e dos dotes de acrobacia?

O Meo Arena meio cheio, foi esvaziando à medida que o concerto se desenrolava. É certo que na linha da frente os “combatentes” não davam sinal de cansaço, mas apesar do anunciado talento, nem todos se converteram a esta causa. Com dois discos editados em 2017, Future e HNDRXX , a conseguir escalar nos tops dos mais vendidos, o rapper tinha muito para mostrar. Limitou-se, no entanto, a encadear temas, intercalados com uns repetidos “hands up, hands up” ou “jump, jump” e despachou tudo numa hora de espetáculo, sem direito a encore.

No palco edp foi apresentado o projeto Língua Franca, que junta os brasileiros Emicida e Rael e os portugueses Capicua e Valete. O hip hop deste grupo fechou este palco e atraiu muitos festivaleiros, que preencheram esta zona do recinto para ouvir canções sobre política, a sociedade e o poder da música. “Tudo começa com a porra do sonho, não deixem de acreditar!” diz Emicida, contando como o seu sonho nasceu “num barraco de madeira” e agora atravessou o Atlântico para se apresentar em Lisboa. Rimas afiadas, a desfilar num cenário único, que vai sendo desenhado em tempo real, no decorrer do concerto.

Cada um dos elementos trouxe também para este palco, canções suas, que juntou a este repertório. Cantam todos a língua verdadeira e transparente, verdadeiros poetas em simbiose perfeita e franca. O hino ao rap em uníssono. Soltar a língua para cantar pensamentos e sensibilidades, experiências e opiniões, de dois países cruzados.

Com mais reis e hinos do hip hop, NBC foi o último a pisar o palco LG. Com muitos anos de carreira, este precursor do hip-hop feito em Portugal, revelou-se um “anjo” em fervor. Moveu o público a dançar e a gritar que “cada um canta o que quer” e com o seu discurso enalteceu a entrada do hip-hop no Festival do Rock. Toda a gente pode ser tudo é um álbum que nos faz “acordar” para os que nos rodeiam que são o nosso “espelho”.

A estreia dos London Grammar em Portugal e a expectativa em relação a esta banda, fez com que a afluência fosse grande, apesar de ser uma sonoridade completamente à margem do cartaz deste dia. A voz incrível de Hannah Reid, a cantar à capela, num espaço que não prima pela boa acústica, impressionou. Ainda que o público estivesse à espera de Future, nos antípodas deste tipo de música, os London Grammar conquistaram os presentes que, de forma, efusiva, aplaudiram os seus temas. Um som claro, despido de grandes artifícios mas com uma intensa componente eletrónica. A própria Hannah Reid é uma figura simples, que se mostrou surpreendida com a receção calorosa do público. Merecem bilhete de volta, num contexto diferente.

Akua Naru terá os seus alicerces no hip hop, mas traz muita soul na sua música. Sempre em constante diálogo com o público, vai distribuído indicações e envolve todos na sua atuação. “Clap your hands”, mais do que um pedido foi uma ordem, e de forma vigorosa, reuniu esta plateia numa dança quase tribal. Falou da “música que nos une” e do “poder do hip hop” e todos acompanharam. Explicou que o público, é um dos “instrumentos” que a acompanha e por isso tão importante. Neste palco, proporcionou momentos de grande festa, mas conseguiu também chegar a um registo mais poético, em que falou ao coração dos presentes. Na sua terceira passagem por Portugal, convenceu com a sua voz quente, acompanhada de banda que mistura raízes e origens musicais.

Os The Gift entraram em palco às 20h40 e eram poucos os que se encontravam no Meo Arena. Um nome pouco alinhado com o cartaz, fez com que adesão tenha sido pouco significativa. A banda de Alcobaça trouxe Altar, a mais recente edição, um disco produzido por Bryan Eno, que acabaram também de editar em vinyl. Os concertos são um dos pontos fortes da banda. Sónia Tavares começou sozinha, em ambiente de penumbra com “I Loved It All”. Começou devagar, com a apresentação dos novos temas, pouco cativantes para quem não está familiarizado com o seu trabalho. A agulha só mudou com “Driving You Slow”, ainda assim, sem conseguirem despertar verdadeiramente o público.

Slow J atuou o ano passado no recinto mais pequeno deste festival e este ano chegou ao palco edp com uma enorme adesão da parte do público. Um crescimento evidente, em especial, depois da edição de The Art of Slowing Down . À beira de se tornar uma super estrela da música, mantém o seu ar tranquilo, e brinda-nos com as suas rimas melodiosas. Em poucos minutos a plateia que estava em registo de final de tarde, com gente sentada pelo chã, mudou de set up. O número de pessoas cresceu exponencialmente, foi a maior enchente deste espaço e todos de pé, a preencher a sombra da pala do Pavilhão de Portugal, vibraram com este artista. O público, conhecedor das letras, acompanhou-o desde o início. “Arte”, “Cristalina”, “Vida Boa”ou “Pagar as Contas” foram momentos altos deste concerto.

Antes, no palco LG, os Octa Push trouxeram música para dançar e Keso, alinhou as rimas de forma provocatória. Afinal de contas, era preciso chamar a atenção de quem se estendia pela escadaria do Meo Arena a apanhar os raios de sol.

Jessie Reyes é uma jovem cheia de talento. Ainda só tem um EP, mas mostrou que tem tudo para ser um sucesso. Com um grande à vontade com o público, mostrou o seu hip hop com sabor a pop, que convenceu que a plateia muito composta que assistia ao seu concerto.

O Festival Super Bock Super Bock volta hoje ao rock com Foster The People, Deftones e Fatboy Slim. Os bilhetes encontram-se à venda nos locais habituais e no local e custam 55 euros.

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