Retornar – Traços de Memória é o nome da exposição que se pode ver desde ontem à tarde em Lisboa, uma exposição um pouco diferente do habitual, uma vez que mostra rostos e memórias vivas, de um tempo e momento da nossa História ainda tão próximo de nós e que ainda hoje nos comove, e envergonha ao mesmo tempo, e vai estar dispersa por vários locais da cidade.
Foram muitos os que partiram forçados, outros à procura de uma vida melhor e outros os que foram em missão, por lá ficaram, constituíram família, vida, e até fortunas, muitos mais foram os que foram forçados a regressar ou melhor a “retornar”, mais da maioria apenas com uma mala na mão e quase sem dinheiro, tendo de deixar tudo para trás. Casas, empresas, trabalhos, amigos e fortunas, para começar ou recomeçar de novo. Recomeços que não foram nada fáceis e são agora relembrados nesta mostra.
A mostra tem como objetivo refletir sobre o fluxo de retornados das ex-colónias africanas, e que marcou o nosso país há 40 anos atrás, tendo na ponte aérea de 1975 o seu ponto alto. Comissariada pela antropóloga Elsa Peralta, a exposição inclui trabalhos de Manuel Santos Maia, Alfredo Cunha, Bruno Simões Castanheira, testemunhos pessoais inéditos, documentos históricos, fotografias de época e de autor e memorabília pessoal, assinalando o fim do império colonial português e o seu significado no presente.
A nova Galeria de Exposições da Avenida da Índia, a zona envolvente do Padrão dos Descobrimentos, o Teatro Municipal São Luiz, são alguns dos locais da Capital onde vai ser possível ver e recordar esta época, estas vidas, até dia 29 de fevereiro, numa iniciativa da EGEAC, desenvolvida pelas Galerias Municipais de Lisboa, com entrada gratuita.
Programa Paralelo:
- Visitas comentadas à exposição com Maria Filomena Molder e António Pinto Ribeiro na Galeria Av. da Índia
- Instalação/intervenção urbana na zona ribeirinha contígua ao Padrão dos Descobrimentos, com contentores que introduz o tema da exposição através da exibição de uma fotografia de Alfredo Cunha, tirada naquele preciso local, em 1975.
- Debates/conversas – com Eduardo Lourenço, Adriano Moreira, Dulce Maria Cardoso no Padrão dos Descobrimentos
- Performance de Joana Craveiro – Um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas – Padrão dos Descobrimentos
- Espectáculo de André Amálio – Portugal Não é Um País Pequeno, em janeiro, no Teatro São Luiz
- Livro de ensaios Retornar – Traços de Memória num Tempo Presente, organizado por Elsa Peralta e Joana Gonçalo, publicado pelas Edições 70
Por Elsa Furtado