Às 10h00, 11h30 e 17h00 há visitas guiadas ao TNDM II; pelas 13h00, é a vez de Manucure, de Mário de Sá-Carneiro, com interpretação de João Grosso, no Salão Nobre. A Praça D. Pedro IV, do lado direito da fachada do TNDM, vai receber o espetáculo A Festa da Rosinha Boca Mole, pela Companhia Mamulengo da Folia, às 13h30 e 17h30. O dia termina com as peças À Vossa Vontade, de William Shakespeare, com encenação de Álvaro Correia, na Sala Garrett e Olhos de Gigante de Almeida Negreiros, com encenação de João Brites e Miguel Jesus, na Sala Estúdio. Durante o dia estão patentes as exposições Portinari e Cavalcanti no D. Maria II e Ana Hatherly: No princípio está o gesto, na 1.ª Ordem e Salão Nobre. Todas as iniciativas são de entrada livre.
A Barraca dedica a comemoração do Dia Mundial do Teatro deste ano ao esforço que na cidade de Jenin, na Palestina, a Companhia Freedom Theater tem vindo a realizar, com ameaças de morte, mortes e prisões efectivas, mantendo vivo um trabalho que já dura há 7 anos. Um video montado por Paulo Vargues a partir de um filme palestiniano, mostrará a actividade da Companhia, o seu espaço, a sua paixão, trazendo ao nosso público o testemunho de até onde o Teatro pode ser generoso e heróico. A sessão prosseguirá com a exibição de On Fear. Apresenta-nos Nabil Al- Raee, actor/director que foi recentemente preso pela polícia política israelita. O filme foi realizado por Ashish Ghadiali e feito expressamente para este dia, para o MPPM e para ser apresentado n’A Barraca. Na 2ª parte da sessão será apresentada o espectáculo Sete Crianças Judias, de Caryl Churchill pelos alunos do 12º ano do Curso Profissional de Artes do Espectáculo do Liceu Passos Manuel, com encenação de Fernanda Lapa.
Esta peça começou a formar-se após uma série de visitas que fiz a um amigo da minha geração, que estava internado no Hospital de Oncologia, em Lisboa. O processo de incapacitação do seu corpo fê-lo regredir até ficar com a aparência de um bebé. Essa imagem completou-se na última vez em que o vi. Usava apenas uma fralda. Erguida quando eu era ainda uma criança, a Av. dos Bons Amigos tornou-se na principal artéria da vila onde os meus pais vivem desde a infância, e onde eu nasci e cresci. Essa vila tornou-se entretanto num dos dormitórios mais assustadores nos subúrbios de Lisboa e na décima maior cidade do país. Em Av. dos Bons Amigos, convido os espectadores dispostos em semi-círculo a experimentarem “uma hora psicológica” sem recorrerem ao relógio – será um tempo ligeiro, nem rápido, nem saturante. Fácil de suportar e difícil de digerir. Através de anedotas, memórias pessoais, e da história recente do país, incorro numa excursão a temas que nos são comuns, mas que nos habituámos a esconder: o isolamento, as inibições a que sujeitamos o corpo, a vergonha daquilo que nos menoriza perante o que identificamos como normalidade, a relação de medo com o desconhecido. Dor, doença e pânico da morte. A dificuldade em assumir a relevância pública dos nossos pavores privados.
Com Av. dos Bons Amigos dou continuidade a uma série de “solos acompanhados” que iniciei em 2010, com Dentro das palavras, em que exploro a autobiografia e a memória como ferramentas para construir ficções em redor dessa noção tão elementar sobre o que é preciso passar até sermos crescidos. É o equivalente cénico ao que na literatura se chama Bildungsroman (romance de formação).
O termo “solo acompanhado” designa a relação com os espectadores. São eles os meus interlocutores. Condicionam o meu discurso, a razão de contar determinada história, assim como o modo de transmiti-la. Como um público é feito de individualidades, trata-se de adequar o estado de espírito que se instala. O ambiente pode oscilar entre um serão animado por um contador de histórias e uma sessão de agitação política (duas formas antiquadas de passar o tempo).
Com Av. dos Bons Amigos pretendo convocar o espectador para um espaço intermédio entre o que é público e o que é privado, e aí trilhar um caminho diferente para o sentido de pertença e de responsabilidade colectiva.
Rui Catalão
Rui Catalão foi jornalista do Público nos anos 90 (atualmente escreve sobre literatura para o suplemento Ípsilon), iniciou em 2000 uma colaboração formativa com o coreógrafo João Fiadeiro, que culminou nas peças O que eu sou não fui sozinho e Existência. Trabalhou também com Miguel Pereira (Portugal), Brynjar Bandlien (Noruega), Mihaela Dancs, Manuel Pelmus e Madalina Dan (Roménia). No cinema, é coautor dos argumentos O capacete dourado (2008) e Morrer como um homem (2009). Como ator participou em A cara que mereces (2006).