Degustação no restaurante 100 maneiras

100maneiras_03Reportagem de Tânia Fernandes e António Silva

Há diferentes formas de interpretar a gastronomia portuguesa. O restaurante 100 maneiras, no Bairro Alto, irá certamente mais longe do que o número faz crer. O chef jugoslavo Ljubomir Stanisic trabalha os ingredientes tradicionais com mestria. O sabor genuíno está presente e é facilmente identificado pelo paladar. No entanto é feroz a luta de sentidos, que se debate com os impulsos desconcertantes emitidos pela visão. Este prato, que poderia ser uma réplica de uma tela de Miro é coelho? É, de facto, avinagrado, pois a solução apresentada é de escabeche. Mas indiscutivelmente é coelho com legumes da horta e areia de morcela. E o jogo do galo, em que há traços e bolas? As papilas gustativas confirmam, é cabrito. Cabrito em crepinette com mousse de cogumelos e gnocci de limão, o prato que, em sabor, o chef mais aproximou das suas origens.

Entrar por esta porta é contar com uma refeição longa. Neste espaço acolhedor servem-se apenas menus de degustação, com cerca de 10 apresentações diferentes. Das entradas, à carne, passando pelo peixe, algumas diversões pelo meio até chegar à sobremesa. Gente simpática e descontraída ajuda-nos a percorrer este longo caminho. O preço é fixo, a ementa uma surpresa.

A apresentação é exímia. Os pratos remetem para a cultura nacional e desenham paisagens. Um bacalhau desidratado, que é o primeiro prato a chegar à mesa, encontra-se preso por molas, numa clara alusão aos estendais de roupa. A vieiria corada, com cebola, polvo, mariscos e pó de broa de milho, servidos em cima de uma pedra, quase parece roubada à praia diria um olhar mais distraído pela abundância de elementos marítimos.

A harmonização com a seleção de vinhos coloca esta experiencia num patamar de excelência. Champanhe para introduzir o bacalhau, o branco Palpite para desmanchar a vieira, o doce vinho Madeira Malvasia para digerir o bombom de foi-gras, o Maldito branco (produção própria) para encaixe perfeito com o ex-libris da casa, o Peixe do dia à Lhubão Pato, que neste caso foi garoupa ao vapor com arroz selvagem encarnado e caldo de Bulhão pato. Um tinta roriz para cortar a gordura do Cabrito e um Moscatel de Setúbal de 2013 para arrumar o Falso cheesecake e pastel de nata.

Apreciar e saborear, com os sentidos bem despertos. Preço que não combina com todas as disponibilidades, mas dias não são dias!

O menu de degustação do restaurante 100 maneiras tem um custo de 52 euros por pessoa, com bebidas não incluídas. A seleção de vinhos tem um custo acrescido de 35 euros ou de 60 euros, no caso de seleção premium.
Localizado na Rua do Teixeira 35 (Bairro Alto) abre todos os dias e serve refeições em dois turnos: às 20h00 ou às 22h30.

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