Crónica: Cultura Para Todos

Por Óscar Enrech Casaleiro

2. Para Que Serve a Capital Europeia da Cultura em 2027?

Vou regressar à política. Eu sei, estas três palavras podem ser fatais para quem gostava de manter leitores fiéis. Mas, como não é o meu caso, aqui vai: ao pesquisar sobre a futura capital europeia da cultura portuguesa, que acontece em 2027, qual não é o meu espanto quando me dou conta que existem 10 candidaturas (de uma ou várias cidades) para a sua organização. Isto poderá indiciar que os políticos portugueses estão finalmente a definir estratégias para a cultura a médio prazo? Esta fartura é de desconfiar. Por um lado muitas destas pré-candidaturas foram lançadas na campanha autárquica de 2017 e, como sabemos, as palavras cumprir e campanha eleitoral funcionam tão bem como Cristina Ferreira e voz baixa. Por outro lado, a decisão final será apenas daqui a 5 anos, ou seja, o processo é longo como os discursos do 10 de junho. São muitos anos de espera e os eleitores têm memória curta pelo que é provável que algumas destas pré-candidaturas morram em breve.

Será que Lisboa, Porto e Guimarães obtiveram ganhos culturais deste evento? Nada disto se pode quantificar facilmente. Houve um melhoramento de ruas e praças e estimulou-se a curiosidade de diferentes públicos e criadores para o consumo e produção da cultura, que aumentou consideravelmente. No caso de Lisboa 94 a atividade cultural em Lisboa era muito mais reduzida do que é hoje. Recordo-me do clima de festa que se sentia em toda a cidade nesse ano. Produziu-se e programou-se muito acima dos anos anteriores, de tal forma que, até chegar a Expo 98, vivemos à custa de muito guronsan tal foi a ressaca cultural. Deram-nos e tiraram-nos o bombom, não foi bonito. Mas, a capital da cultura também lançou sementes para dar mais mundo aos seus públicos. No entanto, a maior lacuna destas cidades está na ausência duma marca cultural própria, que vá para além de serem um destino turístico apetecível.

O que leva ao aparecimento de tantas candidaturas coordenadas por figuras experientes do meio artístico? É apetecível o acesso a fundos europeus, para um evento que acontece cada 15 anos, para reabilitar “à Marquês de Pombal” os espaços públicos. Mas haverá também vontade de ampliar públicos e dinâmica cultural. Até 2027 é preciso haver profissionalização, abertura da produção cultural para fora das nossas fronteiras e formação dos públicos universitários.

Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre. 

N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor

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