Crónica: Cultura Para Todos

Por Óscar Enrech Casaleiro

7. Para Que Serve A Arte E O Património Na Riqueza Do País?

Sei que, em tempos de cozinha de autor, em que os pratos são apresentados mais para olhar do que para comer, não será de bom tom  afirmar que sou fã do cozido à portuguesa, normalmente associado a doses fartas em diversidade e calorias. Mas a verdade é que sou. E uma vez que este não é um prato que coma diariamente, quando é o dia de o fazer prefiro que seja com todos os ingredientes que é suposto ter: da farinheira ao nabo e da couve à morcela. Precisamente pelo facto de ser uma escolha pontual tenho dificuldade em compreender aquelas pessoas que selecionam os alimentos que vão integrar esse cozido, quase como se quiséssemos selecionar qual dos cantores dos Beatles queremos ouvir.

Os nossos responsáveis politicos fazem-me lembrar um pouco estas pessoas quando se trata de pensar as estratégias para recolher receitas para o país. Como resultado recusam-se a olhar para a floresta e centram-se na árvore: impostos, impostos e mais impostos. Não esqueçamos também quais as estratégias para o desenvolvimento do país nos últimos 30 anos: auto-estradas, sol e praia. Foi preciso que todos ficássemos com as contas bancárias mais secas que o deserto do Sahara com as visitas da troika para começarmos a sentir uma ligeira mudança: “Vamos lá ver, vendemos as empresas públicas de aeroportos, eletricidade, correios, vamos ver o que sobra… e se tentássemos que o turismo resultasse o ano todo? Quando esses estrangeiros, levados pela curiosidade e pela ausência de turismo nos países baratos do Médio Oriente, começaram a interessar-se por aquilo que pertence à identidade do país, o número de visitantes a museus, monumentos e património relevante disparou. O pior é que os preços também.

Ou seja, foi necessário o país ser assolado por uma crise económica sem precedentes para originar a vinda de turistas e uma mudança na estratégia de promoção do país.  O problema é que se tudo isto provocou uma subida em flecha junto dos nossos principais espaços museológicos, por outro lado essa procura gerou um aumento quase incomportável dos bilhetes para uma família média de quatro pessoas. Senão vejamos: se uma família de dois adultos e duas crianças for visitar o Palácio Nacional de Sintra pagará 33 euros. Juntando a este valor as despesas de combustível e de refeições, o custo final poderá rondar os 100 euros. Se alterarmos a origem da família para a Bélgica ou para a Alemanha  o valor será relativamente acessível. Não há problema, tudo isto ajuda aos números de défice e do crescimento económico.

Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre. 

N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor

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