Crónica: Cultura Para Todos

Nº 37: Para Que Serve Uma Livraria?

Começo por frisar desde já o meu fascínio pelas livrarias enquanto espaços culturais e arquitetónicos. Não me refiro às duas redes livreiras que dominam o mercado português, a par dos hipermercados, mas dos mais ou menos pequenos espaços de venda de livros, que têm vindo a desaparecer de Lisboa com a turistificação da cidade. Por vezes destacam-se pela beleza do seu interior, por serem espaço de encontro com uma pequena zona de cafetaria, por outro pela dinâmica programação que têm.

Agora que as nossas vidas começam a receber um novo alento, com a suave abertura da economia que castigou todas as áreas de forma desigual, vale a pena centrarmo-nos numa das mais frágeis atividades culturais: as livrarias.

Sejamos sinceros, deixar estes espaços durante o estado de emergência, entregues a uma venda ao postigo não foi uma boa opção. Os “cromos” das livrarias, que como eu, lá vão para folhear obras literárias ou descobrir um título diferente, não pretendem simplesmente deslocar-se a estes espaços para comprar à porta como se de um medicamento se tratasse. Essas pessoas querem vivenciar e circular nestes locais, que, sejamos sinceros, nunca estão cheios, não havendo perigo de não ser cumprido o distanciamento social.

A propósito destes espaços vale a pena relembrar Livrarias, o guia do autor espanhol Jorge Carrión, um interessante percurso por estes santuários do livro. Num momento em que estes espaços de menor dimensão atravessam uma situação difícil de rentabilização e sustentabilidade aproveito para homenagear os livreiros que, não tendo capacidade financeira de reformular o seu negócio, transformando a venda de livros como um acessório de bar, restaurante ou café, resistem corajosamente.

Destaco o Livros & Companhia, na Marinha Grande, pela atmosfera caseira e intimista que sentimos assim que atravessamos os portões da pequena casa tradicional marinhense, complementada por um simpático serviço personalizado que vale a pena conhecer. Não tem bar nem é frequentada pelos grandes nomes da literatura nacional, mas é um apelativo espaço para estar e escolher um livro mais antigo que nos escapou durante o período em que foi editado.

Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.

N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor

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