Crónica: Cultura Para Todos

Nº 35: Para Que Serve a Literatura em Tempos de Pandemia?

É impossível fugir ao tema, ele assalta-nos cada dia e teima em não nos abandonar. É a curva, são as estatísticas frias e cortantes de infetados e mortos transmitidas ao meio-dia, é o estado de emergência. Enfim, é um único tema que se repete mecanicamente. Mas, tal como referi aqui na crónica anterior, os artistas, mentes inquietas mesmo sem trabalho nem receitas, não têm conseguido ficar parados. São eles os responsáveis por este verdadeiro tsunami digital das artes a chegar aos computadores e smartphones.

Tudo começou timidamente com o Salvador Sobral em direto no Facebook e tem vindo a ganhar um volume cada vez maior. Num registo intimista, no quarto ou na sala, por força das restrições da pandemia, e sobretudo ao nível da música, não têm faltado oportunidades de enriquecer o nosso espírito. Tanto é que estas manifestações culturais até já se denominam festivais! Mas esta oferta tem-se estendido à dança, às visitas virtuais, museus e galerias de arte e até à oferta de filmes em streaming. Tudo isto é disponibilizado de forma gratuita para quem tem acesso à internet e para quem pode ter um dispositivo digital.

Por tudo isto chamou-me especialmente a atenção a atividade que é organizada durante este período pela Casa Fernando Pessoa, e pela forma como é comunicada junto do seu público. Surpreende positivamente pela forma analógica, quase “antiquada” (no bom sentido) como funciona. Chama-se Leituras ao Ouvido, e pretende divulgar a obra do poeta de uma forma muito peculiar. Além da partilha através das redes sociais habituais, é possível fazer uma espécie de encomenda telefónica precisamente para quem não tem acesso facilitado aos recursos digitais. Primeiro é feita uma inscrição por contacto telefónico ou sms (914342537 entre as 10h00 e as 14h00), e no dia seguinte é recebida uma chamada com a leitura de um poema ou de um texto curto por um elemento da equipa deste espaço museológico.

Um projeto muito bem conseguido que merece ser aproveitado para uma quarentena que pede o acesso a momentos diferentes: a ideia é simples, barata e permite que a obra de Fernando Pessoa e deste equipamento cultural lisboeta marquem presença num período de quarentena cada vez mais preenchido por atividades culturais digitais.

Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.

N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor

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