Crónica: Cultura Para Todos

Por Óscar Enrech Casaleiro

Nº 21 – Para Que Servem os filmes portugueses?

Sejamos sinceros: o divórcio não é indiferença. Quando os meus vizinhos do andar de baixo decidiram separar-se não havia indiferença. Eu que o diga, todos os dias ouvia as discussões conjugais que tinham, uma constante troca de palavras mais ou menos insultuosas que indiciavam raiva, fúria, irritação. Numa palavra, havia sentimento, e não a ausência dele, que impedia que aqueles dois continuassem a viver em conjunto. Indiferença é o “tanto faz”, é a ausência de reação ou o desinteresse.

É mais ou menos isto que se passa entre a maioria dos filmes portugueses e a sua ligação aos portugueses. Se fosse divórcio havia um sentimento de irritação, ou de ser do “contra”. Não é isto que acontece. A maioria dos filmes estreados não provoca interesse, não há curiosidade em conhecer, nem em espalhar a boa onda de um determinado filme de “boca” em “boca”, ou saber mais relativamente a uma determinada história ou ao elenco . Digo isto por haver de vez em quando (um filme num ano, por vezes dois), que atingem mais de 50 mil espetadores (o que já é um grande sucesso à escala portuguesa) e nos anos bisextos lá aparece algum grande sucesso (mais de 100 mil espetadores, número que é atingido por mais de 15 as longa-metragens estreadas nos últimos 15 anos).

Claro que não há fórmulas mágicas para os filmes portugueses comunicarem, nem estamos a exigir que todos os filmes portugueses tenham de ser sucessos de bilheteira. No entanto, se há de vez em quando algum filme que consegue ir um pouco além dos números mínimos, é porque o facto de ser português não é uma barreira, mas sim a forma como é contado e promovido depois da sua estreia. Vejamos o exemplo de dois grandes sucessos de 2019: Snu, sobre a história de amor de Snu Abecassis e Francisco Sá Carneiro que despareceram em 1980, e Variações que mostra os anos em que o cantor tentou afirmar-se antes de ser uma estrela no início da década de 1980. Vêm alguma característica em comum? Pois é, a vontade de ver histórias recentes de figuras que marcaram a sociedade portuguesa no século XX, será que não podia haver mais estreias de títulos com estas temáticas?

Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.

N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor

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