Crónica: Cultura Para Todos

Por Óscar Enrech Casaleiro

Nº 20 – Para Que Serve O Programa Revive?

Ao longo dos últimos vinte anos passámos de uma época descartável, do deita fora e compra novo,  para a reciclagem e reconversão de tudo aquilo que nos rodeia. Isso implica termos um trabalho a mais: agora todos vamos ter de pensar que função nova é que vamos dar a uma mesa que perdeu uma pata, a uma loja num sítio que ninguém quer ou a um mosteiro do século quinze que está em ruínas há oitenta anos.

Como é que é? Um mosteiro? Sim, também pode ser exemplo de reciclagem. Se escrevermos no google “Programa Revive” aparece no ecrã uma lista de edifícios mais ou menos monumentais espalhados por todo o país que vão ser reabilitados e concessionados a privados para uso turístico. 

Há sensivelmente três anos o Estado português decidiu acordar, de repente, de um coma profundo que deixou fortalezas, conventos, igrejas, hotéis e palácios ao abandono. Edifícios que ficaram durante décadas sem vida nem uso, como se o legado patrimonial que nos deixaram os nossos antepassados de nada nos valesse. Desde o Hotel Termal das Caldas da Rainha ao Forte da Ínsua em Caminha, são mais de trinta os edifícios previstos com o Programa Revive para ganhar uma nova vida nos próximos anos. 

Face ao enorme conjunto de espaços abandonados, ainda são obviamente poucos aqueles edifícios notáveis que vão ter direito à vida, mas ainda assim é obviamente um começo para alguma coisa mudar. O problema é outro: todos estes edifícios vão ser recuperados para uso turístico, inevitavelmente de alta gama, já que as obras a fazer serão de elevados custos atendendo a que o estado da maioria dos edifícios não é famoso. Este programa motiva por isso algumas  dúvidas: haverá tanta procura de turistas com muitos euros que queiram visitar tantos locais diferentes de Portugal? Não estaremos a criar uma dependência excessiva do turismo? E porque não adaptar estes espaços a funções diferentes?

Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.

N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor

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