Companhia Cegada Estreia Fronteira Fechada De Alves Redol

Meio século após o falecimento do escritor Neo-Realista Alves Redol, e três décadas depois da queda do muro de Berlim, a Companhia de teatro Cegada leva ao palco do Teatro-Estúdio Ildefonso Valério, em Vila Franca de Xira, no próximo dia 15 de novembro, a peça Fronteira Fechada, sobre a coragem de quem passa fronteiras clandestinamente.

A peça conta com um elenco jovem, composto por atores em início de carreira como To Zé Santos, Fátima Encarnado e estagiários do curso profissional de artes cénicas da Escola Eça de Queirós, nos Olivais. Rostos conhecidos do grande público, como Érica Rodrigues, João Cabral e Susana Sá, Elisabete Piecho e Marques d’Arede interpretam os papéis principais.

Inspirada na realidade portuguesa da década de sessenta, a peça revela que muitos homens já se tinham aventurado pela travessia clandestina fugindo do seu país e propõe-se partilhar a realidade das mulheres que os seguem, em busca do sonho de uma vida melhor junto dos que (ainda) julgam seus.

Este é o momento histórico em que o autor apoia a seu última peça de teatro, editada postumamente em 1972.
Num abrigo de traficantes (o pai, o filho e um colaborador) passa um grupo de migrantes, cinco mulheres. No primeiro acto apresentam-se ao que vêm e partilham os sonhos que as motivam a colocarem-se, de forma tão vulnerável, sob as regras dos contrabandistas – únicos que devido à sua actividade profissional conhecem as fragilidades das autoridades vigilantes, os segredos da montanha, e deles fazem uso a troco de dinheiro. São todas mulheres – o autor faz regularmente uso da ideologia associada à estética Neo-Realista para expor o ponto de vista do feminino, o papel da Mulher e a sua condição entre os homens na miséria.

O traficante (a personagem com o nome de Velho) é um homem traumatizado pela perda da juventude. Assombrado pela aproximação da morte pela idade decide enriquecer a todo o custo para garantir evitar a miséria na velhice. Permite que todas migrantes passem, continuem a sua travessia, exceto uma que o este dono do negócio impede de continuar caminho, alterando assim a sua condição de migrante para prisioneira.

Ao compreender a sua posição de clausura esta mulher (nunca definida claramente pelo autor – por se tratar de uma migrante ideológica e a sua indefinição permitir a fuga da obra dramática à censura literária do regime) irá então promover um jogo de sedução e conflito no seio da quadrilha (pai e filho: contrabandistas) até descobrir o caminho secreto que lhe permite a fuga pela montanha e recuperar a liberdade.

A peça pode ser vista até ao dia 1 de dezembro, sextas e sábados às 21h30, domingos às 16h00, com sessões para escolas, mediante marcação, de 15 de novembro a 6 de dezembro.

Autor:Texto de Ana Francisca Bragança
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