Com Um Brilhozinho Nos Olhos – O Génio De Sérgio Godinho No Coliseu Do Porto

Reportagem de Rosa Margarida e Paulo Soares (Fotos)

Sérgio Godinho volta “ao Coliseu da sua infância” e o Porto recebeu-o, desde o primeiro instante, com as palmas, que “alimentam” o artista. No palco, a palavra “Liberdade” trocada, caída, espalhada e o homem de intervenção, escritor de canções e de livros, fala-nos sobre o quotidiano, o amor, as lutas, as perdas, as alegrias, a vida! Duas horas de “Nação Valente” e outras histórias, de Sérgio Godinho e “parceiros”. O enorme Palco do Coliseu do Porto foi, ontem, pequeno demais…

Soam os primeiros acordes do tema Noite e Dia. A entrada de Sérgio Godinho é ovacionada e a letra “dura, de teor pesado”, que já existia antes da música, traz-nos os turnos duplos de um operário sobrecarregado. A/O “Nação Valente” representada/o, o 18º álbum de estúdio com a inquietação “godineana” vincada em cada letra. Seguem-se “Grão da Mesma Mó”, a mistura de palavra dita e palavra cantada e “Baralho de Cartas”, entre jogos de sedução e amores perdidos e Artesanato.

Baralham-se as cartas, baralham-se canções novas e antigas e do álbum “Salão de Festas”, o seu (nosso) Coro das Velhas, que nos leva a 1984, ao “concelho de caminha”. De volta ao Porto, assim “À Queima-Roupa”, Sérgio devolve-nos a Etelvina, “a dormir sozinha à beira-rio”.

A carreira de Sérgio Godinho faz-se de parcerias e “assessorias”. É, neste cenário, que se cruzam múltiplos talentos e inúmeros artistas. O trabalho de Hélder Gonçalves e de José Mário Branco, nas vozes do anfitrião e de Camané, acompanhados ao piano por Filipe Raposo: há a Balada da Rita, 40 anos “em guarda”, que se alia à “rapariga de 21 anos com sede de ter mundo”, Mariana Pais, 21 anos e Emboscadas, composto para ser um fado, na versão arrepiante de Camané.

Acompanhado pela banda e com Filipe Raposo ao piano, Sérgio traz de volta Em Dias Consecutivos e Bernardo Sassetti, “que já não está entre nós, mas está entre nós”. Aos refugiados e emigrantes, o cantautor dedica Dancemos no Mundo, do seu trabalho “Lupa”. Seguem-se temas como Tipo Contrafação, Benvindo Sr. Presidente, com canções que ganham novos sentidos e novos protagonistas e Já joguei ao boxe, já toquei bateria…e “já chamei a Manuela”, que sobe ao palco do Coliseu, com uma energia e jovialidade contagiantes. A vocalista dos Clã interpreta com Sérgio Sopro no Coração, Espetáculo e Os Vampiros, este último do saudoso e inesquecível Zeca Afonso.

Para “aligeirar” O rapaz da camisola verde, de Pedro Homem de Mello e Hermano da Câmara e, de repente, quase, quase, no final um Até já, Até já e o intemporal Com um brilhozinho nos olhos e o espetáculo “soube-me a pouco” entoado pela sala. Por isso, um encore, um novo cenário em fundo azul, como “o fundo do mar/no corpo de uma mulher bonita”, Espalhem a Notícia. O trio convidado regressa ao palco para uma ímpar interpretação de Liberdade. Veio-me “à memória uma frase batida”, o Primeiro dia, e um brinde “com o vinho da casa”, com o vinho do Porto, ovacionado.

A noite vai longa, mas reserva-se um novo encore, para A Noite Passada (tão bem passada!), “E então olhaste / Depois sorriste / Disseste: ‘Ainda bem que voltaste!’”…Ainda bem, Sérgio Godinho, que voltaste “ao Porto da tua infância”, com uma “Nação (mais que) Valente”. Se me permitem, em jeito de remate (e de golo), “Que Maravilha!”.

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