Carlos Do Carmo Foi O Homem Do Fado E Da Cidade No São Luiz

Reportagem de Madalena Travisco (Texto) e Joice Fernandes (Fotos)

Foi com o “Novo Fado Alegre” que Carlos do Carmo encerrou, já no encore e em dueto com Ana Moura, o concerto de celebração do 5º aniversário da elevação do Fado a Património Imaterial da Humanidade, na passada noite de 27 de novembro, no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa.

Abre também a tua voz e vem comigo
Não cantaremos nunca mais o fado antigo
…..
A hora
É de mandarmos a saudade e o choro embora
E noutro fado desgarrarmos vida fora

Um instrumental com Carlos Manuel Proença na viola de fado, José Manuel Neto na guitarra portuguesa e Charlie no contrabaixo marcou o início de uma feliz viagem ao repertório do Senhor Carlos do Carmo.

“Trovas antigas, saudades loucas” do “Bairro Alto” revelou as vozes do público que preencheu a Sala Luís Miguel Cintra do TMSL, antes do “Fado das Horas” e das primeiras palavras do Senhor que está no palco de mão no peito, que distribui beijos beijando delicadamente a mão e que junta as mãos em sinal de agradecimento:

“Muito boas noites. Boa noite a todos. Bem vindos. Muito obrigado pela vossa comparença, pela vossa generosidade. Eu agradeço a presença de todos (…) Gostava de fazer fazer algumas coisas que não fossem rotineiras e estive à procura de fados que eu não canto há 10, 20 ou 30 anos e, sei lá, vi que não estavam assim tão desatualizados.”

E é verdade. Não poderia, nem deixou de cantar “Por Morrer uma Andorinha” acompanhado por um violinista goês que conheceu no Museu do Fado (Orlando do Carmo), “Gaivota”, “Não Se Morre de Saudade”, “O Homem da Cidade”, mas trouxe também um fado gravado há muitos anos – “Teu Nome Lisboa” só com Charlie no contrabaixo.

Ana Moura, colega e amiga bonitona de Carlos do Carmo, mostrou a versatilidade da nova geração com os fados tradicioniais: “Loucura”, um  Fado Carriche “Guarda-me a vida na mão” e um Fado Magala “Porque Teimas Nesta dor”.

Carlos do Carmo regressou com “Fado 112” dedicado a Júlio Pomar, presente na sala e o fado Ginguinhas “Andorinhas” antes de anunciar o próximo convidado: Prof. Joel Pina – o mais antigo desta trupe do Fado, que com 92 anos acompanhou o fado mayor “Vem, Não Atrases” a que Maria Rosário Pedreira fez de ponto para recordar a Carlos do Carmo o início da letra. No abraço e na despedida, foi bonito o olhar comovido dos dois amigos.

No próximo fado, favorito da Dona Judite, a memória de Carlos do Carmo não poderia falhar: “Rua do silêncio” saiu certeiro antecedendo “Cheirinhos”, “Fado menor do Porto” (com quadras novas de Hélia Correia) e os acordes de “Canoa” que deram o mote para uma breve retrospetiva da placa giratória da consagração do Fado a património immaterial: O Museu do Fado onde tudo se vai desenvolvendo de forma consistente e discreta. E valeu a pena.

Antes do encore, “Lisboa Menina e Moça” estreia o final como Ary dos Santos o escreveu:

Lisboa mulher e força armada
cidade razão da minha vida

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