Camané partilhou o Fado com amigos no Coliseu

camane_nunofontinha_4344A sala do Coliseu, ontem, foi enchendo ordeiramente. Não havia grande algazarra. Estava-se ali para ouvir o Fado.

Quando o pano levantou, apareceu a imagem do bisavô e um registo áudio, daqueles que nos recordam as agulhas dos gira-discos que saltavam nas 33 rotações. “Muito obrigado por terem vindo. Começei com um fado do meu bisavô”.

A voz quente e doce do Camané ocupa a sala com o “Último recado”, depois da “Suplica”. Houve uns problemas com o auricular/sistema de som, que ao terceiro fado, estavam resolvidos: “Já passou“ disse, aliviado. E recomeçou: “Os fados tradicionais transportam-nos para vidas, para lugares onde já não vivemos”. A plateia assentiu.

Depois da “Gola alta” chamou ao palco, com alguma timidez, o primeiro convidado. “É a primeira vez que cantamos juntos mas é uma pessoa que eu admiro muito: Aldina Duarte”. E Aldina Duarte chega, como musa de calça preta e blusa de seda. Olham-se, sentam-se e cantam “Memórias de um chapéu”. É a vez de Aldina falar; sempre com aquele jeito tímido de “eu nunca falo, eu nunca cantei duetos, sou muito emotiva e preciso de ser cerebral”. Escolhe a música da letrista que mais lhe encaixa na alma, Maria do Rosário, e canta como se cantasse o sofrimento de Eurídice (em vez do de Orfeu) no “Fado com dono”. Muitas palmas. Dão as mãos e Camané agradece: “Obrigado Aldina”!

O ritmo arrebita com a “Amiga Maria”, “Mote” e a “Dança de volta”. Breve interrupção sobre o som. Tira casaco, coloca casaco: “Agora está ótimo, obrigado”.

camane_nunofontinha_4373

Chega a vez da nova convidada: uma cantora de quem gosta muito e que lhe pediu para gravar um disco seu. Da Polónia: Anna Maria Jopek de bota alta e vestido curto. Percebe-se a simbiose do fado. Ela canta em polaco, ele canta na língua de Camões. A musicalidade prevalece nos dois fados (mais sentido para quem conhece as letras ou sabe polaco). Anna Maria agradece com vénia oriental. Camané prossegue com mais dois fados, e antes de anunciar o nome do próximo convidado lá se confessa: “É a primeira vez que eu convido colegas músicos, colegas cantores. Nunca tinha acontecido. Também sou tímido, é como se convidasse para minha casa…. Agora, um grande amigo: Mário Laginha”.

Dois fados ao piano e um tango. Sim, um tango, com Mário Laginha ao piano e um convidado surpresa: Mário Franco no contrabaixo. E o Camané cantou “Afiches” com um “sábado à la noche” em modo argentino.

Mario Laginha ainda fica para acompanhar o seu “Ai Margarida”, tema com letra de Álvaro de Campos.

Mais dois fados, de volta às cordas pelos executantes Luís Guerreiro na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola e Paulo Vaz no contrabaixo, presentes desde o início.

O Coliseu aplaudiu quando invocou a amizade pelo Carlos do Carmo, a sua primeira referência, grande amigo e fadista. O dueto “Por morrer uma andorinha” mereceu fortes aplausos. Carlos do Carmo brincou, dizendo que o conhece desde os 12 anos e nunca gostou de ouvir crianças a cantar o fado. Não sabe o que aconteceu há cerca de 37 anos!!

Ao vigésimo fado, despediu-se: “Foi um prazer estar aqui. Espero que nos voltemos a encontrar sempre e para sempre”. Palmas e reboliço. A plateia serena começou a agitar-se. Fez quatro encores. A plateia gostou. Soltou-se. “És liiiiindo!”ouviu-se. Camané riu, agradeceu e saíu.

Texto de Madalena Travisco
Fotos gentilmente cedidas por Nuno Fontinha
Fotos gentilmente cedidas por Ana Luisa Alvim
Artigo anteriorFrozen já disponível em livro pela D. Quixote
Próximo artigoMostra de Cinema da América Latina em Lisboa no mês de Dezembro

Leave a Reply