Autocarro da Carris convida a um passeio pelo roteiro republicano de Lisboa

Um autocarro da Carris percorreu no passado dia 1, pela primeira vez, o roteiro republicano de Lisboa, revelando, durante cerca de uma hora, os locais emblemáticos da revolução de há 100 anos, desta vez com o Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano da Maçonaria Portuguesa como cicerone. As viagens decorrem até final do mês.

Com António Reis a servir de guia nesta viagem inaugural, os convidados começaram este roteiro republicano nos Paços do Concelho, onde o historiador explicou a importância deste local, lembrando que aquela Câmara já era republicana, antes da implantação do regime, já que em 1908 os republicanos tinham conquistado a maioria dos lugares.

Foi à varanda do edifício da actual Câmara Municipal de Lisboa (CML), que na manhã de 5 de Outubro de 1910 o republicano José Relvas proclamou a República, perante a multidão reunida na Praça do Município, e foi conhecida a composição do Governo Provisório, encabeçado por Teófilo Braga. Da revolução resultaram 76 mortos e cerca de 300 feridos civis e militares.

A caminho do Terreiro do Paço, o autocarro passou pelo Hotel Europa, com António Reis a lembrar que ali foi instalado o “quartel-general” durante a revolução. Na Praça do Comércio, onde, a 1 de Fevereiro de 1908, ocorreu o regicídio em que pereceram o rei D. Carlos e o príncipe D. Luís Filipe, que precipitou a desagregação do regime que levaria à revolução de 5 de Outubro de 1910, o cicerone lembrou a força que veio do rio, uma vez que foi nas cercarias desta praça que, ao fim da tarde de 4 de Outubro, ancoraram os navios ocupados pelos marinheiros revolucionários, tendo o navio de guerra “São Rafael” feito fogo sobre os edifícios dos ministérios ali instalados.

De passagem pela Estação do Rossio, foi sublinhado o papel deste espaço, dada a sua centralidade, e recordado que foi nesta estação que foi assassinado o presidente da República Sidónio Pais, em 1918. Durante a revolução de 5 de Outubro de 1910, em defesa da Estação, ponto estratégico a reter ou a conquistar por uma das duas partes, esteve a Guarda-Fiscal, em apoio da Monarquia, que chegou a hostilizar civis. Pelo lado republicano, aqui acorreram, através do túnel do Rossio, dando a volta por Campolide, vários praças de Caçadores 5 e da Infantaria 5, comandados pelo mestre de corneteiros deste último regimento.

Junto à Rotunda (hoje Praça Marquês de Pombal), que foi o cenário principal da revolução, onde foi instalado um hospital de sangue, o historiador destacou o papel do almirante Machado Santos e classificou mesmo de “crucial” o seu empenho. A este comissário naval se deveu a reunião dos sargentos revolucionários em conselho de que saiu a decisão de continuarem a lutar.

Segue-se o Quartel de Campolide, que foi tomado pelo capitão Afonso Palla e alguns sargentos, antes da chegada de Machado Santos, e dele saíram várias baterias com destino à Rotunda. No dia 4 de Outubro, a Artilharia Um foi alvo do fogo das baterias monárquicas de Queluz, sofrendo danos de monta nas suas instalações pela acção das granadas.

O autocarro passa também pelo Quartel de Campo de Ourique, no bairro onde se iniciou-se a revolução republicana às 00h45. Ali existe uma lápide que indica o local onde explodiu, na madraguda do dia 4, a primeira granada da revolução, disparada pelo Regimento de Artilharia 1.

A viagem prossegue, passando pelo Palácio das Necessidades, onde se encontrava o rei D. Manuel II, que deixou depois este edifício em direcção ao exílio.

Na Rua do Sacramento, em Alcântara, está o último ponto do roteiro que recorda a acção no Quartel do Corpo de Marinheiros de Alcântara que impediu a saída do esquadrão da cavalaria da Guarda Municipal.

A viagem termina no ponto de partida, dando a oportunidade aos interessados de visitarem, gratuitamente, a exposição Eu Fui uma Testemunha – o 5 de Outubro em Lisboa, que está patente até 29 de Abril de 2011, na Galeria de Exposições dos Paços do Concelho.

O autocarro funciona até ao dia 31 de Outubro, efectuando quatro visitas durante a semana, às terças e quintas-feiras, às 11h00 e às 15h00, tendo como público-alvo as escolas do ensino secundário (do 10.º ao 12.º ano) e os idosos. Ao fim-de-semana efectuam-se mais quatro visitas, às mesmas horas, para as famílias e o público em geral.

As visitas são gratuitas, mas estão sujeitas a inscrição prévia, através do telefone 213 246 290 ou do email centenario.republica@cm-lisboa.pt.

Texto e fotos de Cristina Alves
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