Ai Weiwei Em Lisboa – Um Olhar Contemporâneo Com Recurso A Técnicas Artesanais

Ai Weiwei - Rapture

Esculturas de grande dimensão, realizadas com recurso a diferentes técnicas artesanais coabitam com fotografias, filmes e documentários. Ai Weiwei – Rapture, a exposição de arte contemporânea que inaugurou na passada sexta-feira, na Cordoaria Nacional é composta de peças fáceis de ler, mas por vezes difíceis de digerir. Falam de temas como a crise global dos refugiados, a covid, a liberdade de expressão ou as consequências do consumismo desenfreado. Mas também nos levam a sonhar e a viajar pelo universo fantástico dos animais do zodíaco ou de criaturas mitológicas.

É a primeira exposição individual, em Portugal, de Ai Weiwei, o artista e ativista dissidente chinês. Reúne 85 obras, espalhadas pelo espaço de 4000m2. A curadoria é assinada pelo brasileiro Marcello Dantas.

Conhecido por criar ligação aos países por onde passa, Ai Weiwei vive atualmente no Alentejo, onde iniciou um trabalho de colaboração com artesãos portugueses de diferentes ateliês para trabalhar materiais como a cortiça, azulejo, tecidos e pedra. Foi no nosso país, através de parcerias estabelecidas com a Amorim Cork Composites, Viúva Lamego, Pedrosa & Rodrigues e a B Stone que criou quatro obras originais, apresentadas nesta exposição, que incorporam elementos da cultura e tradição portuguesa.

Papel Higiénico de Mármore é testemunho do pânico com que o mundo reagiu à pandemia de Covid-19, com a rotura de stocks, nos supermercados, de bens do quotidiano; Figura Sem Cérebro em Cortiça é um auto-retrato do artista, feito em cortiça; Mapa-Mundi é uma peça de 2006, recreada em Portugal, para esta exposição. O mapa mundo é representado por milhares de camadas de tecido, numa alusão à produção excessiva na indústria do vestuário; Ai Weiwei escolheu a Viúva Lamego para recrear a sua obra Odyssey (de 2016). O painel conta com 1800 azulejos, pintados à mão, pelos artesãos da empresa nacional.

Além destes trabalhos exclusivos, também podem ser admiradas algumas das obras mais conhecidas do artista. É o caso de Forever Bicycles (2015), uma escultura monumental com 960 bicicletas de aço inoxidável usadas como blocos de construção que recebe os visitantes à entrada da Cordoaria Nacional. Snake Ceiling (2009), uma instalação em forma de cobra constituída por centenas de mochilas de crianças, em memória aos estudantes mortos no terramoto de Sichuan, em 2008; ou Law of the Journey (Prototype B) (2016), que consiste num barco insuflável de 16 metros de comprimento com figuras humanas e faz alusão a um dos temas mais recorrentes na obra do artista: a crise global dos refugiados.

Nesta vertente mais centrada a assuntos da realidade, Ai Weiwei abre as portas às próprias tormentas, ao expor, em caixas (S.A.C.R.E.D), episódios da sua vida. Em 2011 as autoridades chinesas prenderam Ai Weiwei durante 81 dias. Durante este período, o artista foi constantemente interrogado e posto sob vigilância 24 horas por dia. Através de pequenas e sufocantes janelas, os visitantes têm acesso agora a estas memórias.
No decorrer da exposição, encontram-se também uma série de documentários incluindo um de seus mais recentes filmes Coronation, um retrato da evolução da Covid-19 em Wuhan, berço da pandemia. Com imagens captadas por equipas profissionais e cidadãos que voluntariamente ajudaram o artista no projeto, o documentário mostra como foi o confinamento da primeira cidade no mundo a ser atingida pela pandemia.

A par com a realidade, a exposição abre espaço também ao lado da fantasia, onde a pesquisa do imaginário é explorada. É admirável, o corredor composto por obras feitas com recurso à linguagem dos papagaios de papel tradicionais chineses. Representam criaturas mitológicas e muitas extravasam o conceito original. Ai Weiwei incentivou os artesãos a explorar os limites e as obras ganharam uma escala maior, em formato tridimensional. Parte destas obras foram exibidas na Ilha de Alcatraz, em São Francisco, em 2014.

Em Zodíaco, Ai Weiwei explora a questão das fronteiras entre arte e produto. A obra é composta por doze painéis com 190 x 190 cm com cabeças de animais do zodíaco chinês, feitas com peças de Lego.

Sobre o Artista

Ai Weiwei – Rapture

Ai Weiwei é um ativista político, símbolo da resistência à opressão e defensor dos direitos civis e da liberdade de expressão, com uma vasta produção artística que marcou essa luta nas últimas décadas. Ele é também um articulador das raízes culturais mais profundas da humanidade, em especial das tradições e iconografia chinesas, perdidas ou esquecidas desde a Revolução Cultural iniciada por Mao Tsé-Tung (1966 – 1976). A pesquisa de materiais, técnicas e simbologias de outros tempos é um trabalho de arqueologia cultural que faz parte da sua busca pela identidade que a China perdeu e atualmente sofre pela desconexão com as suas raízes.

 

Ai Weiwei – Rapture

A palavra rapture tem vários significados. Em inglês, é o momento transcendente que liga a dimensão terrena e a dimensão espiritual. Ao mesmo tempo, é o rapto, o sequestro dos nossos direitos e liberdade. Rapture pode ser também o entusiasmo sensorial com o êxtase. Ai Weiwei – Rapture reúne essas ideias sob a forma de uma exposição que apresenta as duas dimensões criativas de um artista ícone dos nossos tempos.

A exposição pode ser visitada até ao dia 28 de novembro, todos os dias das 10h30 às 19h30.

Os bilhetes de acesso encontram-se à venda nos locais habituais, com desconto de segunda a sexta-feira. Aos sábados, domingos e feriados custam 15 euros (adulto), 7 euros (crianças 4 aos 15 anos), 11 euros (estudantes 16 aos 25 anos) e 10 euros (Sénior – mais 65 anos). Estão também disponíveis packs de família.

Há um Fã Pack Fnac Ai Weiwei, a partir de 16,11 euros com direito a poster e entrada direta na exposição (qualquer dia da semana, sem hora marcada, sem filas).

Autor:Por Tânia Fernandes e António Silva
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