Com uma fisionomia a fazer lembrar as figuras da mitologia grega, Florence Welch até aparenta alguma fragilidade, com a sua tez branca, cabelos longos, ruivos, ondulados e silhueta esguia. Mas ao fim de uns três minutos de palco, a deusa revela-se um demónio irrequieto, cheia de energia para distribuir.
Foi um regresso à sala que lotou há oito meses atrás, com um alinhamento muito semelhante. É How Big, How Blue, How Beautifull que pretende apresentar, mas não deixa de cantar também os grandes êxitos dos dois discos anteriores. Foi uma noite de conforto para a alma e para o coração a de ontem.
Primeiro entra a banda, The Machine e só depois Florence. Veste uma túnica comprida, translúcida e brilhante. Descalça, como é hábito, e segura. Mais contida do que no verão passado, mas com uma dose generosa de entrega, abre com “What The Water Gave Me”. No final da música, já percorre o palco de uma ponta à outra numa ânsia de dar um pouco da sua atenção a cada um dos presentes. Com “Ship to Wreck” o turbilhão Florence intensifica-se. A artista corre, salta e dança sem nunca perder a compostura vocal. Oscila os tons, elevando ou baixando as notas, mas mantém um registo melódico harmonioso.
As emoções transbordam em “Rabbit Heart”, quando desce ao fosso e entra na multidão. Todos querem tocar esta deusa e ela própria se estica para chegar ao maior número possível de fãs. É coroada com uma das muitas grinaldas de flores que se vêm no Meo Arena. “This Is a Gift” termina com intensidade.
Regressa ao novo álbum com Delilah, para depois apresentar uma versão do mega hit “Sweet Nothing” de Calvin Harris (no qual participa), que começa de forma tranquila e ganha ritmo com as palmas do público.
Com aquele que diz ter sido o primeiro tema escrito para este último trabalho, e que lhe dá o nome, estende um sinal de esperança a todos os presentes, presenteando-os com o seu grande, azul e bonito céu. A atenção reparte-se agora entre a secção de sopros em ação e Florence que dança em contraluz.
De novo um regresso ao início da carreira, com “Cosmic Love”, no tempo em que, como refere a própria, a banda ensaiava “em tachos e panelas”, ou na bateria de outros que havia na sala. A música começa com uma combinação de harpa e voz que vai espalhar magia no ar, à medida que o ambiente ganha cor, através de balões vermelhos, em forma de coração, que são atirados ao ar.
Quem, nas bancadas, se sentou para “Long & Lost”, “Mother” e “Queen of Peace” teve ordem para se levantar e pular com “Spectrum”. Antes do encore, serve aqueles que continuam a ser os grandes êxitos da diva e aos quais ela continua a dar grande destaque “You’ve Got The Love” e “Dog Days Are Over”, esse hino à libertação que Florence incendeia com o pedido de que as pessoas se abracem, beijem, amem e tirem peças de roupa!
Uma semi-despedida e regressam para um dos temas fortes deste último álbum: What Kind of Man. Por fim, um último ritmo que alinha a bateria com o batimento cardíaco. “Drumming Song” fecha uma noite carregada de amor.
Florence tem talento, carisma e ao mesmo tempo uma simplicidade cativante. Consegue fazer um espetáculo em que atravessa vários registos, da melancolia indie-hippy ao êxtase digno de uma estrela super pop. Lugar garantido, entre os deuses do Olimpo, sob um céu grande, azul e bonito.
Reportagem de Tânia Fernandes
Fotos Cedidas Pela Produtora EIN