Samuel Úria regressa do exílio com uma canção-passaporte. Expatriado, extracomunitário, estrangeiro, alienígena, “Forasteiro”. A primeira cantiga a escapar do próximo álbum de Úria não constitui uma declaração de intenções, antes é afirmação de nacionalidade: sempre português, mas a vir de outro lado. Forasteiro.
Estamos perante caso raro: uma canção de intervenção, que fala de crise, mas que não deseja ser para agora. Tão pouco actual como uma nuvem cinzenta, chega o primeiro pingo musical de um disco de chuva. Vem lá de outras bandas. É “Forasteiro”.
Realizado por Hugo Gomes, o videoclip do novo single de Samuel Úria desenrola-se por uma série de ilustrações rápidas. Mais do que evidenciar o gosto de Úria pelos rabiscos, mais do que se explicar através de cada desenho filmado, o teledisco tem o seu significado no papel, na captura bidimensional de um mundo pouco dado a profundidades. O nosso mundo.
Em terra de cegos quem tem olho é rei; quem tem visão estereoscópica é forasteiro. Exatamente com esse título, “Forasteiro”, o vídeo segue a mão tridimensional de um estrangeiro que regista (desenha e canta) essa naturalidade achatada que já não lhe serve de pátria.