Alma revela a faceta mais hierática e lírica de Nuno Carinhas, conjugando duas metáforas maiores da imagética religiosa – peregrinação e refeição. Alma propõe um pequeno teatro da vida humana, encenando-a como viagem, com os seus avanços e recuos, obstáculos e desvios. A dramaturgia faz incursões a lugares pouco frequentados da nossa literatura, Vitorino Nemésio, Guerra Junqueiro, Teixeira de Pascoaes. Alma é um espetáculo plasticamente intenso, atravessado por reminiscências pictóricas, e que perfaz um arco que vai do ritual sagrado à festa profana. No epicentro está uma “Alma caminheira”, alegoria de toda a espécie humana, disputada pelo Anjo e pelo Diabo. Alma luta contra o tempo e faz um trajecto de provação, mudança, descoberta. “Oh, andai! Quem vos detém?”
Nuno Carinhas, que assina a dramaturgia com Pedro Sobrado, é também responsável pelos figurinos da peça. A cenografia é de Pedro Tudela. O papel de Alma é desempenhado por Leonor Salgueiro, num elenco composto por Alberto Magassela, como Diabo; Fernando Moreira Anjo, como Santo Ambrósio; Fernando Soares Anjo, como Igreja; João Castro Anjo, Outro Diabo; Jorge Mota Anjo, como Santo Agostinho; Miguel Loureiro, como Um Peregrino; Paulo Freixinho, como Anjo e Paulo Moura Lopes Anjo, como São Jerónimo. Numa produção do TNSJ, em parceria com o TNDM II e TNSJ.
Alma em cena de 21 Fevereiro a 3 Março, na Sala Garrett, de quarta a sábado, às 21h00 e domingo às 16h00.
Texto de Clara Inácio