Tereza Salgueiro apresentou-se com nova imagem mas fiel às suas origens no Convento das Bernardas em Tavira

Reportagem (texto e fotos) de Paulo Sopa

Foi num espaço com lotação esgotada, que em tempos até já foi uma panificadora, que Tereza Salgueiro cantou sobre viagens, sobre partidas e regressos, sobre o sentimento de pertença a uma cultura que a tournée mundial Voltarei à minha Terra nos fala através da música.

Debruçado sobre a Ria Formosa e a foz do rio Gilão, o Convento das Bernardas, recuperado pelo Arquiteto Eduardo Souto Moura, assistiu na passada sexta-feira, dia 5 de agosto, a uma noite de luz e cor com a voz inconfundível de Tereza Salgueiro – que agora se escreve com ‘z’ em vez de ‘s’ na tentativa de passar uma nova página no seu percurso musical, agora a solo – num espaço ainda inacabado mas muito bem arranjado e acolhedor para o evento.

Tereza Salgueiro, apesar da “mudança ortográfica” e do cabelo solto, a marcar uma imagem mais leve, continua colada ao estilo musical e ao grupo que lhe deu notoriedade – Madredeus; mas não se veja isto como fraqueza ou incapacidade de mudança, veja-se antes uma excelente soprano a manter-se fiel às suas raízes e àquilo que melhor sabe fazer.

Este espetáculo, Voltei à minha Terra, traz-nos música portuguesa do século XX, com os mais importantes nomes da nossa história contemporânea: Fernando Lopes Graça, Fausto, Zeca Afonso, entre outros. É um espetáculo rico na forma e no conteúdo, com novos e velhos arranjos musicais compostos e interpretados por jovens e talentosos músicos, sem guitarra portuguesa, mas com acordeão.

A voz de Tereza, essa, continua igual a si própria: a imensa personalidade vocal de tal forma dominante que é reconhecível em qualquer parte e a qualquer hora, a estabilidade, a precisão, o vibrato quando é estritamente necessário.

A forma como Tereza Salgueiro continua a utilizar a voz enquanto instrumento musical é única na sua simplicidade e beleza; não há floreados ou artefactos de embelezamento excessivos na música de Teresa Salgueiro para dar espaço à forma pura e honesta como consegue comunicar com quem a ouve.

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