A peça conta com encenação de Vicente Alves do Ó, cenografia de Eurico Lopes, música original de João Gomes e interpretação de Carmen Santos.
Madame de… espera, impaciente, por uma chamada telefónica. Sabe que virá. Sabe que será uma chamada derradeira. O último telefonema. Através dum fio de telefone, espera recuperar ainda o amante que parte, que a abandona, que se escapa como um fantasma que agora é apenas passado. A realidade dos últimos tempos transformou uma história de amor numa história de memórias e são essas memórias que Madame de… usa para resgatá-lo, trazer de volta, como se o amor fosse um corpo à espera de ser agrilhoado, ou um destino do qual nunca se escapa incólume.
Durante uma hora e meia, Madame de… usa todas as palavras possíveis, todos os silêncios e interrupções, num diálogo que se transforma em combate, em confissão, em fervoroso jogo de enganos e mentiras. A voz, elemento primordial, é onde tudo reside. O coração na boca, dirão, sim, o coração na boca, o sangue num fio de telefone que atravessa a cidade de Paris dos anos 30 e que na penumbra da noite bate com a velocidade de uma pequena tragédia doméstica.
Mas todas as tragédias são enormes, gigantes para quem as vive. Diante da noite e do abandono, não há palavra que salve um amor que se desfaz. A verdade é apenas uma questão de tom. Como na música. O tom da voz revela, o que as palavras escondem.
A Voz Humana vai estar em cena no Teatro da Trindade, a partir de 22 de agosto até dia 8 de setembro, de quarta-feira a sábado às 22h00. Aos domingos há uma sessão às 18h00. Os bilhetes estão à venda nos locais habituais e o preço varia entre os 8 e os 15 euros.
Texto de Joana Resende