Rock psicadélico no Reverence Festival Valada

Reverence Festival ValadaReportagem de Marina Costa e José Guilherme Ribeira
 

A freguesia ribatejana de Valada acolheu um novo festival de música, o Reverence Festival Valada, entre os dias 12 e 13 de setembro (com um “warm-up” no dia 11), no parque de merendas junto à praia fluvial de Valada. Experienciar esta primeira edição do Reverence Festival foi voltar a sentir a razão principal pela qual se criaram os primeiros festivais de verão: a música.

Num grande espaço adjacente ao recinto, o parque de campismo e o parque de estacionamento garantiam a estadia. Já dentro do recinto, tudo “quanto baste”. Nunca se perdia muito tempo quer fosse a ir buscar uma cerveja a um preço muito acessível, ou um café acompanhado por um delicioso mini pastel de nata de Alcanhões ou beber um copo de vinho da região, enquanto se dá uma volta pelas bancas da Feira das Almas. Dois dias de festival, de sol a sol, trouxeram a esta  margem do rio Tejo, o melhor do panorama atual da cultura psicadélica.

85 bandas distribuídas pelos quatro palcos: o palco Rio logo depois da entrada principal. Ao lado, no campo de futebol do Ribatejano Futebol Clube Valadense, o palco Reverence (um único senão, foi quando o check sound neste palco coincidia com os concertos que decorriam no vizinho palco Rio). O palco para os dj’s cujo trabalho não pode ser catalogado por categorias comuns: o RPower. E o palco Sabotage do outro lado do recinto. O que criou das 12h às 19h um verdadeiro ping-pong entre este e o palco Rio. Com concertos de curta duração, cerca de 30 minutos, os palcos secundários levaram o público de uma ponta à outra.

Às 20h de sexta abriram as portas para o palco Reverence. The Witches foram os primeiros. Seguiram-se Swervedriver e Red Fang. Esta banda norte americana bem conhecida dos palcos portugueses foi o 1º grande concerto neste palco. Com a sua sonoridade pesada e veloz não deixou ninguém indiferente. Seguiu-se então o hard rock dos suecos Graveyard que trouxeram um concerto dinâmico que soou diferente do princípio ao fim. E os cabeças de cartaz, os Electric Wizard, reconhecidos como a “banda mais pesada do mundo”. Com esta referência assistimos a um concerto com influências no hard rock feito nos anos 70 e a atmosfera de filmes de terror de série b.
A noite continuou com concertos de volta aos palcos secundários até às 5h. Com destaque para os nova iorquinos Naam, o heavy metal made in Portugal dos Miss Lava, ambos no palco Sabotage. E a presença inequívoca do projeto nortenho Black Bombaim no placo Rio.

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No segundo dia do festival, o primeiro destaque da tarde vai para os portugueses Keep Razors Sharp, no placo Sabotage. Esta “super banda” reúne membros de Sean Riley & The Slow Ridders, The Poppers, Capitão Fantasma e Riding Pânico. O público dirigiu-se em passo acelerado para a frente, não passou despercebido o rock “bem afiado” deste grupo de amigos.
O indie rock de Exit Calm foi seguido de Mugstar. Esta banda de Liverpool tem a habilidade de reter o interesse com sucessões de riffs, batidas insistentes e algum drama, que permite ao público viajar para lugares distantes.
Uma surpresa foram os Asimov, no palco Rio. Este duo não é para brincadeiras e descrevem-se como uma banda de “heavy psych explosions”. Trouxeram a fúria psicadélica na guitarra de Carlos Ferreira, acompanhada de forma impressionante pelo baterista João Arsénio.
Ao mesmo temo que Asimov, mas no palco Sabotage, tocaram os The Quartet of Woah!, que não têm a mesma distorção psicadélica, mas algo que os distingue: o órgão eletrónico que garante à banda um estilo único e imprevisível.

À mesma hora do dia anterior, apesar de algum atraso nos palcos secundários, abriu o palco Reverence com os A place to bury strangers seguidos de Psychic TV que trouxeram a sua inovação e música provocadora. Com a vinda destes ingleses assistimos a um concerto que vai para além da música, toca também as artes visuais.
E pela 1ª vez em Portugal os Hawkwind. Verdadeiras lendas e pioneiros na cena britânica do space rock psicadélico deram um concerto futurista com a magia vinda do espaço criada pelos movimentos no ar das mãos de Tim Blake no teremin. Sem qualquer contato físico fomos transportados para o espaço e soubemos que os Hawkwind continuam tão populares e fortes como sempre o foram.
Depois entram em palco os Mão Morta. Banda de culto bracarense dispensa qualquer tipo de apresentações. Com a voz e presença “doutro mundo” de Adolfo Luxúria Canibal deram um concerto carregado, em grande parte por culpa das letras que nos afrontam de uma maneira direta para as situações do tempo em que vivemos, valores morais e uma sociedade culturalmente atrasada.
E por fim, os cabeça de cartaz desta edição: os The Black Angels. Um concerto incomum, sombrio e complexo. Iluminado pela voz de Alex Maas, o teclado e o som orgânico da guitarra distorcida tocada por Christian Bland, que passou a tarde a jogar basebol no espaço do recinto. (Outra maravilha neste festival foi o cruzamento natural do público com membros das bandas que tocaram no festival, também eles circularam e assistiram a concertos), para depois fechar o palco Rio com o seu projeto a solo Christian Bland & The Revelators, dando-nos a sua assinatura pessoal sonora e contribuição para um rock psicadélico moderno.

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A noite, mais uma vez, continuou até ser dia. Com destaque para o White Manna. Não foi o último concerto, mas foi sem dúvida uma ótima maneira de fechar um cartaz tão completo como foi este festival. Ao Reverence Festival Valada não se pode desejar mais. Mais do que foi esta 1ª edição.

 

 

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