Rock in Rio 2012: Metallica foram os reis da noite actuando para mais de 40 mil pessoas

Por Sara Peralta (textos) e Sara Santos (fotos)

A Cidade do Rock recebeu 42 mil pessoas no primeiro dia, dedicado ao metal. Metallica, na sua 3ª presença no Rock in Rio Lisboa, foram os líderes do dia 25 de Maio, com a prestação poderosa a que habituaram os fãs. Evanescence antecederam-nos, com uma legião de fãs um pouco diferente, Mastodon não desapontaram, e Sepultura marcaram o ritmo ao som dos Tambours du Bronx.À entrada da Cidade do Rock já se formavam filas horas antes da abertura de portas, e às 16h00, à medida que lhes era facultada a entrada, dezenas e dezenas de fãs corriam das portas para o Palco Mundo, desesperados por um lugar na 1ª fila. Os primeiros, depois de horas de espera debaixo de sol, foram recompensados com o acesso ao Snake Pit para verem Metallica bem de perto. T-shirts de Metallica (em clara maioria), Mastodon, Evanescence, Sepultura, Soulfly, Megadeth, Slayer ou Iron Maiden passavam num vulto negro pelo Parque, voando para a frente de palco.

A música começou por se fazer ouvir, bem alto, no Palco Sunset. Ao contrário do que estava previsto, não foram os Ramp, os primeiros a subir ao palco, mas sim, Mão Morta, para desilusão dos fãs que disso se aperceberam tarde demais. A banda de Adolfo Luxúria Canibal estreou assim o Rock in Rio Lisboa 2012, acompanhada de Pedro Laginha, e com Valter Hugo Mãe como convidado especial. Fora do recinto conseguia ouvir-se “Aum” de Mundo Cão (banda estreitamente ligada a Mão Morta), pela voz de Laginha, uma das músicas que embelezou um concerto que deu o melhor de ambas as bandas.
Pouco depois das 18h00 foram Ramp a tomar controlo do Sunset, bem acompanhados por Teratron, com temas recentes e “clássicos” frente aos seus fiéis seguidores. Numa colaboração incomum, onde “a intenção era exactamente arriscar”, os artistas partilharam com o público esta aventura musical, surpreendendo e satisfazendo, numa fusão natural que reafirmou que “a electrónica com o metal vive bem”.

A estrear o Palco Mundo desta edição,  os Sepultura fizeram-se ouvir às 19h00 em colaboração com Tambours du Bronx, num espectáculo de percussão poderoso que se aliou ao som das guitarras para um concerto impactuoso, anunciado por Andreas Kisser como “um show muito interessante, muito único”. A banda abriu com “Refuse/Resist” (do álbum Chaos A.D. de 1993), focando-se de seguida essencialmente em reportório recente, havendo espaço para momentos músicais criados especificamente entre os dois conjuntos, bem como três originais de Tambours du Bronx, encerrando-se o concerto com as também antigas “Territory” e “Roots Bloody Roots”. O alinhamento foi composto por: “Mixture”, “Refuse”, “Sepulnation”, “Kairos”, “Mask”, “Dialog”, “Structure”, “Requiem”, “Fever”, “Territory”, e “Roots Bloody Roots”.

Pouco antes das 20h00 os Kreator preparavam-se para subir ao Sunset para um concerto mais concentrado nos seus “clássicos”, contando com a participação de Kisser de Sepultura.

Para quem desejava aproveitar mais da experiência deste grande evento do que somente as bandas, ou para os que gostam de metal mas não são por exemplo apreciadores do registo menos melodioso de Sepultura com letras pouco perceptíveis, era possível passear pelo vasto recinto, cedendo às muitas manobras promocionais presentes, aproveitando os espaços radicais, ou desfrutando da Rock Street, uma das grandes novidades desta edição.
Num espaço cenográfico que procura retratar Nova Orleães, a meio destaca-se o coreto onde actuarão bandas com um registo diferente daquelas que actuam nos outros palcos, numa onda de filarmónica que promete animar os cinco dias do evento. De um dos lados encontram-se as comidas alternativas aos stands espalhados pelo recinto, com os pastéis de massa tenra d’ Frutalmeidas, os bifes da Portugália, O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo, o leitão do Mister Pig, ou os cachorros do Psicológico.

Do outro lado existem as lojas, com a Fnac, onde é possível participar em passatempos e comprar não só discos como pilhas ou cartões de memória para os que não querem deixar de registar as suas memórias fotográficas, O Boticário onde se pode fazer girar uma roda para ganhar prémios ou fazer uma sessão de maquilhagem, as fragrâncias de Loewe, os penteados de Lúcia Piloto, a Multidados, o DN, entre outros.
Por esta rua passam também os Artistas de Rua, havendo músicos a entoar canções de outras bandas, um caricaturista, uma cartomante, dançarinos, ilusionistas, e muito mais.

Era no coreto da Rock Street que se podiam ouvir os Melech Mechaya, que prometiam como sempre animar o público puxando-o para a dança, numa actuação energética e melodiosa que põe um sorriso no rosto de todos.

Enquanto do palco Millenium soavam actuações menos profissionais – com gritos da viral música de Michel Teló (“Ai Se Eu Te Pego”) ou versões um pouco mais afinadas de Adele – por parte de elementos do público que eram recompensados com perucas em forma de crista ou óculos gigantes, ambos cor-de-rosa, Mastodon subiam ao Palco Mundo.

Por volta das 20h30 Mastodon apresentam-se então perante uma plateia mais composta, apostando mais uma vez e à semelhança de Sepultura, no seu reportório mais recente, com um alinhamento semelhante ao do seu concerto no Coliseu dos Recreios, protagonizado por temas do álbum The Hunter. Os guitarristas exibiram a sua habilidade técnica enquanto percorriam as passadeiras frente ao palco, compondo a sonoridade de fusão de rock e metal, num concerto fortemente aplaudido. O alinhamento arrancou com uma sequência com “Black Tongue”, “Crystal Skull” e “Dry Bone Valley” seguido de “Thickening” e continuando com “Octupussy”, “Stargasm”, “Blasteroid”, “All the Heavy Lifting”, “Spectrelight” “Curl of the Burl” e “Bedazzled”, terminando com “Blood And Thunder”.

Pelo recinto continuavam a formar-se filar nos mais diversos sítios: a fábrica de sofás da Vodafone, a Montanha Russa, o Millenium com os seus habituais brindes, o Slide, a restauração, a Roda Gigante, etc.
A Street Dance animou igualmente o público com os diversos estilos de dança urbana por parte de vários colectivos que exibiam o seu talento perante os espectadores que por ali passavam.

Às 21h45 foi tempo de Amy Lee subir ao palco, à frente da sua banda que marcou presença no Rock in Rio pela segunda vez, passados 8 anos. Evanescence tocaram para uma plateia mais cheia, à medida que subia a afluência do público para ver  os Metallica. Com 17 anos de carreira, 3 álbuns, e diversas alterações à formação original, a banda deixou para trás os seus tempos de glória. Após um período de ausência, regressam assim aos palcos, arrancando o concerto neste Rock in Rio com “What You Want”, logo seguido de um dos seus mais afamados singles “Going Under”, bem recebido pelo público embora com menos euforia do que em 2004, isto também pelo maior motivo de adesão ser claramente Metallica.

A banda tocou as mesmas músicas que já não agitam plateias do modo que em tempos faziam, mas ainda há, claro, braços no ar a marcar o ritmo, vozes a acompanhar a melodia, e alguns gritos histéricos no feminino entre a multidão; de forma geral, os fãs, gostaram do concerto, lamentando a sua curta duração. Na voz e nas teclas, a sorridente Amy Lee, conhecida pelo seu vozeirão que por vezes ao vivo deixa a desejar, conduziu a sua banda, puxando pelo público com a interpretação final de “Bring Me to Life”. O alinhamento foi composto por: “What You Want”, “Going Under”, “The Other Side”, “Weight of the World”, “Made of Stone”, “Your Star”, “My Heart is Broken”, “Lithium”, “Sick”, “The Change”, “Sober”, “Oceans”, “Imaginary”, “Never Go Back”, e “Bring Me to Life”.

Terminado o concerto de Evanescence, mais de 40 mil pessoas aguardavam a entrada em palco de Metallica. “Long Way to The Top” de AC/DC anima o público expectante, e não muito depois das 23h30, ouve-se então, como habitual, a introdução de “The Ecstasy of Gold”, com imagens do filme “O Bom, O Mau e O Vilão” a passarem nos ecrãs gigantes. James Hetfield, Kirk Hammett, Lars Ulrich e Robert Trujillo sobem ao palco e arrancam com “Hit the Lights”, primeira música do seu primeiro álbum (Kill ‘Em All).

Ao contrário de Mastodon e Sepultura, Metallica não tocaram um único tema do seus dois últimos álbuns, com um alinhamento celebratório dos 20 anos do seu homónimo disco mais conhecido por Black Album, do qual tocaram todas as faixas na ordem inversa, tocando apenas duas músicas pós-Black Album.

Após “Hit the Lights” seguiram em força com “Master of Puppets” para delírio dos fãs. Milhares de punhos se erguiam no ar e milhares de vozes sabiam a letra de cor, saltando-se de seguida ao som de “Fuel”, “For Whom the Bell Tolls”, e “Hell and Back”.
Foi então que, de “The Struggle Within” a “Enter Sandman”, a banda tocou o seu álbum homónimo na íntegra. Depois de uma ausência de uma década e após o concerto no Rock in Rio 2004, os Metallica não se cansam de Portugal e os portugueses não se cansam deles, como é vísivel pela afluência ao evento para ver estas lendas do metal, que actuam em solo nacional pela 7ª vez desde o primeiro Rock in Rio Lisboa.

Com dois ecrãs laterais e um como pano de fundo atrás da banda, foi possível ver imagens em directo do próprio concerto bem como outras pré-gravadas. Com passadeiras que se estendiam à frente do palco, uma plataforma elevada atrás da bateria, imensas luzes, algum fogo, um alinhamento sólido de um concerto de 2h, o seu talento e a sua simpatia, os Metallica deram um espectáculo que satisfez os fãs de longa data e pôs eufóricos aqueles que claramente estavam pela 1ª vez num concerto da banda. Animais de palco, Metallica não desiludem, embora fique a memória de concertos mais longos e algum desejo de surpresa.

James Hetfield foi acompanhado por milhares de vozes na balada “Nothing Else Matters” bem como em “The Unforgiven, o público vibrou com “Sad But True”, e, como era de esperar, “Enter Sandman” – a fechar a primeira parte – trouxe a maior agitação à multidão, com a banda a puxar por ela.
O público chamou pelo grupo e este regressou para o encore com “Fight Fire With Fire”, seguida de “One”, e acabando explosivamente com “Seek & Destroy”. A banda despediu-se calorosamente, com todos os membros dirigindo-se aos fãs, e a habitual promessa de um regresso para breve.
O alinhamento foi então: “Hit the Lights”, “Master of Puppets”, “Fuel”, “For Whom the Bell Tolls”, “Hell and Back”, “The Struggle Within”, “My Friend of Misery”, “The God That Failed”, “Of Wolf & Man”, “Nothing Else Matters”, “Through the Never”, “Don’t Tread On Me”, “Wherever I May Roam”, “The Unforgiven”, “Holier Than Thou”, “Sad But True”, “Enter Sandman”, “Fight Fire With Fire”, “One”, “Seek & Destroy”.

E foi pouco antes das 2h00 que o fogo de artifício assinalou o final do primeiro dia de Rock In Rio Lisboa 2012, ao som do hino oficial.
A maioria do público encaminhou-se para a saída enquanto outros foram desfrutar das últimas horas de festival, dirigindo-se por exemplo à Tenda Electrónica onde ainda era possível ouvir Dr Lektroluv ou dançar ao ritmo de Chase and Status DJ Set & Rage.

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