Curta metragem Conto do Vento foi a vencedora do MOTELx 2011

Por Sara Peralta (texto e fotos)

O MOTELx voltou a premiar uma animação como melhor curta metragem portuguesa de terror: Conto do Vento (2010, 12?), de Cláudio Jordão e Nelson Martins. O conto é protagonizado por uma criança que corre ao sabor do vento por campos floridos, entoando canções, numa “história de embalar com meninos e meninas, velhos e velhas, fogueiras e monstros, mortes e gritos”.

Christian Hallman, porta-voz do Júri (composto também por Frederico Serra e, em substituição de Nicolau Breyner, Tiago Matos), explicou a decisão: “Pela narrativa imaginativa, o ponto de vista original e sensibilidade artística na ilustração da fábula de uma rapariga e da sua mãe numa sociedade preconceituosa, contada pelo vento”. Mais detalhes e uma visão sobre o processo de desenvolvimento da curta podem ser encontrados no blog da mesma.

Outro filme mereceu uma menção do júri, que considerou pertinente reconhecer um filme “que se destacou dos outros em competição, pelo ritmo da comédia, originalidade e humor slapstick, pegando num fruto do dia-a-dia e transformando-o numa terrível máquina assassina”, atribuindo uma menção especial a Banana Motherfucker, (2011, 15′), de Fernando Alle e Pedro Florêncio (também envolvidos em Papá Wrestling e Blarghaaahrgarg).

A sessão de encerramento prosseguiu com Stake Land, épico pós-apocalíptico de Jim Mickle em modo road movie, numa América povoada por “vamps” e destabilizada por fanáticos religiosos, que dificultam a luta de “Mister” contra as criaturas do submundo.

A última sessão do festival trouxe-nos Deadball, gore nipónico num violento, bizarro, mas cómico filme de baseball com efeitos especiais que lembram a série Power Rangers, produzido pela Sushi Typhoon, que na última edição teve em exibição Mutant Girls Squad.

E assim chegou ao fim a 5ª edição do MOTELx, festival com cada vez mais notoriedade, mantendo um público fiel a esta mostra de género, bem como atraindo novos espectadores, com filas numerosas para as bilheteiras nos primeiros dias e diversas sessões esgotadas. Ao longo de cinco dias, o MOTELx assombrou o Cinema São Jorge com inúmeras obras de terror – desde inéditas novidades a peças de culto -, um painel de discussão sobre o cinema de terror português, a Noite de Jogos de Terror, e a Masterclass com Eli Roth.

Ficou a faltar a decoração horrífica que fazia as delícias dos fãs do género, com elementos cuidadosamente criados e colocados a decorar o espaço do mítico cinema. (No entanto alguém terá tentado criar alguma atmosfera, lendo-se certa noite na porta de uma casa-de-banho a frase “Where is my mummy?” escrita em maiúsculas no que parecia ser baton vermelho…).

João Monteiro (da organização do MOTELx) moderou a conversa com Eli Roth, entre excertos de Cabin Fever, Hostel e Hostel II, discussões sobre dificuldades financeiras, inspirações cinematográficas, a relação com Tarantino ou David Lynch, notas sobre como dirigir uma equipa, curiosidades sobre as produções, pensamentos sobre Hostel e algumas das reações ao mesmo, planos futuros, e questões do público que receberam comentários humorísticos e respostas merecedoras de aplausos.

Durante vários dias o MOTELx voltou a oferecer variadas emoções com filmes para todos os paladares, num menu com pratos normais, fortes, ou extra-fortes. Com menos elementos clássicos do terror sobrenatural, nesta edição pareceu reinar o horror real vendo-se exemplos com base em situações criminosas e uma boa dose de violência gráfica.

Exemplo disso é Kidnapped que vive desse terror da vida real que pode entrar literalmente por qualquer casa adentro, estilhaçando a paz de uma família que se vê refém de uma noite de horror e luta pela sua sobrevivência, numa película que mantém o ritmo e a tensão, mostrando a dada altura acções paralelas em split screen enquanto encorajamos a sobrevivência de distintos membros da família.

Na mesma linha, Mother’s Day mostra-nos um grupo de amigos feitos reféns na casa do casal anfitrião por três irmãos criminosos que buscavam refúgio naquela que pensavam ser ainda a casa da sua adorada mãe após um deles ser alvejado. Quando a mesma se junta aos filhos, a situação das vítimas piora, pois afinal, eles aprenderam tudo com a mamã… É com esta família disfuncional que Darren Lynn Bousman procura provar ser mais que o realizador do franchise de Saw, num filme que conta com a atmosfera certa e a sua dose de visceralidade.

Também real é o horror de Dream Home com raízes na actual crise económica. Comprar a sua casa de sonho revela-se complicado para Cheng, com dois empregos, um pai doente, vida pessoal instável, e impotente perante os inconstantes valores imobiliários, concluindo que terá de passar por cima de tudo e todos. O 1º filme de terror com a crise como pano de fundo, mostra-nos homicídios brutais e sem piedade, impulsivos e frios, recorrendo a instrumentos quotidianos, e que beneficiarão a protagonista…

No domínio do sobrenatural tivemos The Shrine, com um culto religioso, uma possessão e consequentemente imagens a lembrar O Exorcista. Possessão havia igualmente em The Violent Kind, que do submundo nos trouxe um grupo de insólitos personagens que aterroriza um gang de motards, num filme que de Lynchiano (alegando-se  homenagem ao universo de Lynch) tem pouco mais que o vermelho de Twin Peaks, e que procura saudar os filmes de terror e sci-fi dos anos 50. The Woman, filme controverso no último festival de Sundance, voltou a mexer com o público, numa obra violenta e revelada complexa, que teve ambas as sessões esgotadas.

Os controversos filmes de Sion Sono estrearam território nacional com a acção perturbadora de Suicide Club, a narrativa algo surrealista de Strange Circus ou o impressionável Exte: Hais Extensions.

Outcast dividiu o público entre os que o acharam uma belíssima prova do talento de McCarthy, com a história de  mãe e filho que vivem na fuga da ira de um praticante de magia negra, e os que não se surpreenderam com este género de terror. Forbidden Door foi também recebido de formas diferentes, prendendo alguns com o mistério da história e uma atmosfera que faz adivinhar algo mais, e deliciando no final com a vingança pessoal e chacina posteriormente atropelados por twists de incertezas sobre a realidade; outros, falhou em conquistar, não tendo achado a acção cativante.

As gargalhadas ficaram a cargo de Burke & Hare, a mais recente obra de John Landis, e a que terá tido talvez a resposta mais unânime por parte do público. Baseado numa história verídica, e recheado de um fantástico elenco 100% britânico (com nomes como Simon Pegg, Andy Serkis, Tim Curry ou Christopher Lee), é uma deliciosa comédia negra que não desilude, sobre uma dupla que montou um lucrativo negócio de fornecimento de cadáveres frescos à Escola Médica, e que devido à elevada procura se vê obrigada a “ajudar” algumas pessoas a morrer.

Com estes e outros filmes, o MOTELx voltou a reunir fiéis amantes do terror, diversos cinéfilos e novos curiosos, seguramente prontos a regressar na próxima edição com a promessa de novas surpresas, horrores e convidados especiais, num festival que sem dúvida se começa a afirmar no panorama internacional e que merece reconhecimento pela dedicação a este cinema de género.

     

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