A Paixão de S. Julião Hospitaleiro inspira-se numa história escrita no século XIX por Gustave Flaubert. O espectáculo encenado por António
A peça pega nos elementos da tragédia clássica para ampliar o sofrimento de Julião, o protagonista interpretado pelo actor Graciano Dias, que apesar da inevitável fatalidade que lhe foi destinada é amparado por uma força transcendente.
Segundo um conto litúrgico, os pescadores de Ruão mandam, agradecidos por qualquer boaventura, erguer vitrais na Catedral da cidade, onde retratam a vida de São Julião Hospitaleiro. Nesse vitral, séculos mais tarde, Gustave Flaubert encontra a matéria para escrever um conto, impregnado de um ambiente mágico e negro, de parricídio e de medo.
É a partir desta obra (e tudo o que a precede), que António Pires constrói um espectáculo onde se conta a história de São Julião Hospitaleiro, um homem que nasceu príncipe e a quem foi fadado um destino com tanto de grandioso, como de trágico. Embriagado pela vertigem da caça, enquanto jovem, Julião encontra, apenas, satisfação no sangue derramado dos animais vivos. O confronto com os seus terríveis actos e a dura constatação de que estes o precipitam para o cumprimento de uma negra profecia, levam Julião a abandonar família e terra. Foge, seguindo um caminho que, crê piamente, o conseguirá manter distante e protegido do seu fado mas que, inevitavelmente, o levará ao ponto exacto a que pretende escapar: a morte de quem o fez nascer. É nesta luta, de um homem contra o seu próprio destino – tema transversal aos textos anteriormente trabalhados por António Pires –, que Julião se faz santo.
Com música ao vivo e com dança hip-hop, A Paixão de São Julião Hospitaleiro está em cena no Teatro Municipal São Luiz até 23 de Janeiro, de quarta-feira a sábado às 21h00 e aos domingos às 17h30.
Os bilhetes custam entre 10 e 20 euros, havendo os havituais descontos para menores de 30 anos (o espectáculo é dirigido a maiores de 12 anos).
Texto de Cristina Alves